Conflitos da Autonomia -Resposta
de Salazar ao Presidente da Junta Geral - F
No que diz
respeito à Filial do «Banco de Portugal», Salazar passa as culpas à Madeira:
“(…) Tenho feito o que tenho pedido para se começar a construção da Filial e
devo dizer que a culpa de ainda nada se ter feito é só da Madeira. O Governador
e o Meira estiveram aí a tratar do caso pelo Natal e ficou assente com a Câmara
o que devia fazer-se: alargamento duma rua, expropriação duma casa. O projecto
está pronto, dinheiro existe, boa vontade de ser agradável ao Governo e à
Madeira toda. Simplesmente mudou de opinião, Já não mantém o contratado e a
Filial não pode faze-se.
Agora em
vez da rua projectada querem largas avenidas e com esse projecto, como V. Exª.
sabe, já é impossível a construção do Banco de Portugal. Se aí tivessem um
plano definido e bem estudado de melhoramentos em que não pudessem mexer as
câmaras que se sucedem, este caso não se verificaria, e os senhores teriam já
em andamento as obras. Este caso, como outros, provarão a V. Exª. que a culpa
do que acontece não é daqui, é quase sempre daí”.
«Lotaria»:
“há certamente confusão no que vejo escrito acerca da lotaria. As misericórdias
do continente, salvo a de Lisboa, não têm qualquer participação nos lucros das
lotarias. Recebem apenas o que lhes cabe na divisão da verba de alguns milhares
de contos inscrita no orçamento para subsídios às instituições privadas de
assistência. Ninguém compreenderia o porquê duma medida para o do Funchal que
no estado actual apenas significaria subsídio aparte saldo do tesouro. Diz-se V. Exª. ser urgente resolver o
problema da assistência. É tanto aí como aqui, mas
estamos
bastante longe de o poder fazer, a não sere com a solução simplista de dar
tanto dinheiro quanto seja necessário para bastar a todas as precisões de
população, o que reputo impraticável.
Parece-lhes
que só há miséria na Madeira, esquecidos de que a crise trouxe por toda a parte
acréscimo de miséria, e isso se nota igualmente em todas as terras do
continente. As Misericórdias e asilos vivem muito mal e a caridade e a caridade
particular vai fazendo prodígios para aguentar as instituições porque o estado
sozinho não o pode fazer.
Desde que
se vê que a centralização das instituições existentes pode -e eu o creio –
trazer grandes reduções de despesa, porque se não estuda aí o problema e se não
propõem já soluções concretas? Aqui existem os mesmos males e vai-se tomar esse
caminho, mas V. Exª compreende
que tais
problemas não podem ser resolvidos com fórmulas abstratas”.
«Portos»: “Não
julgo desinteressante de que a Junta Autónoma do Porto do Funchal se encarregue
também das pequenas obras necessárias nos portos da ilha. Vou estudar com o
Ministro das Obras Públicas o problema, a ver se por esse lado se encontra
solução para as deficiências apontadas. Em todo o caso, deve V. Exª. notar que
antes de completadas as obras do porto, a Junta não terá meios para fazer coisa
que se veja, e aquelas devem tardar três ou quatro anos, segundo creio. Como se
desviaram da Junta para a Câmara receitas na importância aproximada de 1.000
contos, para se concluírem as obras do porto há-de ser preciso autorizar a
Junta a contrair um empréstimo de alguns milhares de contos. Os encargos deste
devem absorver quase todas ou todas as receitas da Junta Autónoma do Porto, se
estas não aumentarem”.
«Porto Santo»: “Tomei conhecimento do programa para
Porto Santo, com hotéis e campos de golfe, etc. Entendo que é preciso tratar
primeiro das coisas da Madeira, sem nos dispersarmos, demasiadamente (…).
[Ass. António Oliveira
Salazar]
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