Conflitos da Autonomia – Eleições
com a União Nacional
Um ano após as
primeiras eleições legislativas pós Constituição de 1933, realizadas em
dezembro de 1934, todos os partidos políticos e associações secretas foram
proibidos, impondo-se apenas uma «união de todos os portugueses», o chamado
partido único «União Nacional», que tinha sido criado em 30 de julho de 1930, com
estatutos aprovados pelo Decreto nº 21608, de 20 de agosto de 1932.
Até 1945 apenas a
União Nacional propunha candidatos à Assembleia Nacional e à Presidência da
República, o que criou um desincentivo e bloqueio aos cidadãos que pretendessem
votar noutra alternativa política. Além disso, durante o Estado Novo o número
de votantes não aumentou significativamente, as mulheres diplomadas e chefes de
família votavam desde 1930.
“Em 1933 o
eleitorado era constituído por 1 milhão e trezentas mil pessoas e na década de
60 por 1 milhão e 500 mil pessoas. No entanto, no mesmo período, a população
total do país aumentou em dois milhões de indivíduos e o número de analfabetos
(que não podiam votar) desceu para metade” (Jornal da Madeira, 05/10/1985).
As segundas
eleições do Estado Novo realizaram-se no dia 30 de outubro de 1938, em que a
abstenção atingiu 80 por cento da totalidade do eleitorado. “Na data das
eleições, grupos da Legião Portuguesa distribuíram manifestos em toda a cidade.
Liam-se num deles: «Em 1925, Portugalizar era palavra que, no estrangeiro,
significava desordem e descalabro. Agora, essa mesma palavra significa
Progresso, Ordem, Disciplina. Eleitor: medita e cumpre o teu dever votando em
Salazar” (Diário de Notícias – Funchal, 04/12/1979).
As terceiras eleições
tiveram lugar em 1942, mantendo-se concorrente o partido único – a União
Nacional, com elevada abstenção. “No dia 1 de Novembro, João Amaral candidato
por Lisboa, exortou ao voto em massa, pelo regime, aos microfones da Emissora
Nacional. «Foi a política de paz realizada por Salazar, depois de 1928, que
tornou possível a sua política de guerra». O Ministro do Interior afirmou que
as percentagens de votantes foram maiores do que em 1938 (…)”. Os sindicatos,
como o dos Caixeiros, chamaram os associados a «cerrar fileiras» em volta do
Governo. (Diário de Notícias – Funchal, 04/12/1979).
As quartas eleições
realizaram-se em 1945, num período especial da vida nacional e mundial com a
derrota do regime nazista no fim da II Guerra Mundial, tendo sido aproveitado
aquele facto para a realização de manifestações pró-democracia e pró-socialista
em todo o país. Em setembro daquele ano, a Assembleia Nacional foi dissolvida,
tendo o Governo anunciado a realização de eleições livres em novembro. Com a
esperança de mudar o rumo político, foi criado o MUD – Movimento de Unidade
Democrática em 8 de outubro do mesmo ano, tendo em vista enfrentar o regime de
Salazar. Nas eleições presidenciais de 1949, o MUD apresentou como candidato
Norton de Matos, que fez uma campanha vigorosa prometendo instalar um regime
democrático se fosse eleito. Mas o regime do Estado Novo tudo fez para não
criar as condições democráticas de liberdade e renovação dos cadernos
eleitorais. Por isso, uns dias antes do ato eleitoral Norton de Matos desistiu.
O anúncio de eleições livres foi uma farsa, pois a oposição não teve tempo de
se organizar para concorrer (apenas o PCP estava organizado como organização
política clandestina). A União Nacional foi a única a concorrer, e o MUD foi
ilegalizado em janeiro de 1948 por Salazar, com o argumento de ter fortes
ligações ao PCP.
Tudo não passou de
uma artimanha política de Salazar…