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domingo, 29 de janeiro de 2023

 

Conflitos da Autonomia – Primavera Marcelista (1)

 

Com a doença acentuada de Salazar e consequente exoneração do cargo de Presidente do Conselho no dia 27 de setembro de 1968, foi escolhido como seu substituto o Prof, Marcelo Caetano. Nascido em Lisboa no dia 17 de agosto de 1906, veio a falecer a 26 de outubro de 1980 na situação de exilado no Brasil. Na sequência da morte de Marcelo Caetano, “Marcelo Rebelo de Sousa evoca no seu depoimento a lembrança do professor de Direito Constitucional. Ao mesmo tempo recorda-se das relações e proximidades familiares. Caetano foi padrinho de casamento do pai de Marcelo, Baltazar Rebelo de Sousa governador de Moçambique entre 1968 e 1970. E também esteve para ser padrinho de baptismo de Marcelo. Entretanto, apesar da amizade e das relações familiares, Rebelo de Sousa afirma que, entre 1971 e 1973, assim como Freitas do Amaral, afastou-se de Caetano devido a divergências políticas (…) a sua inicial militância católica com evidente sentido social e comunitário, de carácter neotomista. Cita, como exemplo, a Conferência de São Vicente de Paulo, ministrada por Caetano em Março de 1928 (…) faz uma homenagem ao político. Enaltece o doutrinador da Mocidade Portuguesa num sentido anglófilo (…)”. (in «MARCELO CAETANO UMA BIOGRAFIA 1906-1980» Francisco Carlos Palomanes Martinho, Rio de Janeiro, ed. FGV 2010).

 

O referido autor refere na página 106: “O primeiro texto de Marcelo Caetano publicado na Ordem Nova intitula-se «A falência do Senhor dos Passos» e refere-se à procissão da Quaresma, evento tradicional no bairro onde viveu a maior parte da sua juventude, o bairro dos Anjos. No seu texto lamenta a banalização do ritual e o seu aburguesamento. Para ele, tratava-se de uma cerimónia morta desde «o embarque do Sr. D. Manuel na Ericeira», ou seja, desde o exílio do último e desafortunado representante dos Bragança, em 1910. Caetano escreve: «Uma alma que, levada pela sêde do Divino, peregrina do Absoluto, quisesse aí descansar o seu caminho doloroso, não encontraria no meio desses burgueses nenhuma paz…» E arremata afirmando a necessidade de um novo renascimento. De Cristo, entenda-se. «Não nos chega, a nós, almas cristãs do século XX, a exibição do caiado sepulcro de Jesus: quem nós hoje queremos é Cristo vivo no meio de nós, a sua palavra sem plágios do Pe António Vieira, nem retórica de mau gosto». Assim, ao que parece, do ponto de vista ortodoxo do jovem Caetano os Sermões daquele sacerdote que um dia se viu obrigado a explicar-se perante o Tribunal do Santo Ofício talvez fossem demasiado sofistas, superficiais e destituídos de sentido.”

 

E na página 203, refere: “No dia 6 de setembro de 1944, Marcelo Caetano era nomeado, em substituição do interino Francisco José Caeiro, ministro das Colónias. Permaneceu neste cargo até ao dia 4 de Fevereiro de 1947. Portanto, durante dois anos e cinco meses Caetano ocuparia pela primeira vez um cargo de primeiro escalão no regime do Estado Novo. É possível afirmar que a gestão de Marcelo Caetano na pasta das Colónias foi determinante para o resto da sua vida. Não só porque foi a primeira participação num argo de grande importância e visibilidade nacional. Mais do que isso, a conjuntura de guerra e a necessidade de arregimentar argumentos em defesa  do Ultramar, em parte relativizaram o autonomismo defendido com tanto vigor na década de 1930. É verdade que Marcelo Caetano voltou a falar em autonomia. Mas o processo viria acompanhado de tantas contingências que, no mínimo, se pode dizer que não se tratava de uma tarefa para a sua geração e nem mesmo para as gerações seguintes”.

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