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terça-feira, 11 de março de 2014


Hospital Novo, opções tardias

 “Não podemos deixar passar sem reparo esquecimento total de zonas de protecção e o atrofiamento do Hospital que se vem verificando e que resulta da construção de edificações em todos os seus quadrantes, a comprometer qualquer viabilidade de expansão futura.
Como não se compreende, de igual modo, a construção de um Complexo destinado ao Ciclo Preparatório a norte do Hospital apenas separado deste por uma estrada, o que não deixará de constituir factor grave de perturbação sobretudo para os doentes”.
In «RELATÓRIO DE ACTIVIDADES» de 1975
 do Hospital  Distrital do Funchal

Já, em 1975, foi questionada a construção da Escola Dr. Horácio Bento de Gouveia pela sua proximidade ao Hospital da Cruz de Carvalho, cujo funcionamento decorria, na altura, há cerca de dois anos, bem como o atrofiamento a que o mesmo estava a ser sujeito nas suas envolventes. Essa posição foi tomada pela Comissão Instaladora do Centro Hospitalar do Funchal, no relatório referente ao ano de 1975.
Naquele ano, estava a ser implementado o Centro Hospitalar do Funchal, do qual fariam parte os hospitais da Cruz de Carvalho, Marmeleiros, Dr. João de Almada e o Pediátrico Santa Isabel, embora não existisse ainda uma integração perfeita de todos os serviços. O que diz aquele relatório é que o Hospital dos Marmeleiros (até dezembro de 1974, pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Funchal e gerido por esta) estava degradado. Apesar das carências em meios humanos e materiais, verificadas no “hospital novo” o certo é ser “Também muito aceitável o nível do Hospital Dr. João de Almada e Pediátrico Santa Isabel, mas francamente mau o do Hospital dos Marmeleiros, a carecer de melhoramentos inadiáveis”.
Se parecia um dado adquirido que o novo hospital iria solucionar o problema das instalações sem ter de haver preocupação com a sua ampliação, o certo é que seria lógico admitir que, num prazo mais ou menos longo, houvesse necessidade de mais espaço, devido ao eventual aumento do número de utentes. Certamente foi essa a previsão da Comissão Instaladora que entrou em funções no dia 23 de julho de 1975 e elaborou o Relatório daquele ano.
O que se passou daí em diante foi a permanência em funções daqueles hospitais, tendo sido submetido o dos Marmeleiros a profundas obras de remodelação, assim como o da Cruz de Carvalho, obras estas que nem sempre foram delineadas com rigor e com uma visão de futuro.

A partir da regionalização do sector da saúde (Dec-Lei nº 426/77, de 13/10), a grande preocupação do executivo regional foi preocupar-se com a propaganda ao invocado “melhor serviço de saúde do país”. As instalações pareciam perdurar eternamente, apesar de o número de utentes continuar a aumentar. Os sucessivos alertas de alguns profissionais do CHF caíram em saco roto.
Apesar de os terrenos a norte serem área de expansão do «hospital novo», o que daria muito bem para construir instalações novas, o Governo Regional optou em 2001 por inscrever verbas no orçamento regional para ampliar a Escola Horácio Bento de Gouveia. E pela Resolução nº 138/2003, “O Conselho do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu aprovar o Decreto Regulamentar Regional que sujeita a medidas preventivas os terrenos localizados na área envolvente à nova unidade hospitalar a implantar no Funchal”, em zona de bananeiras em Santa Rita, S. Martinho.
Apesar da opção política de construir um hospital de raiz, o Hospital da Cruz de Carvalho sofreu obras sucessivas, apesar do mesmo ser para “abater à carga”. Até que, parecendo estar definitivamente assente a construção de um hospital sem recurso à ampliação do actual, houve avultadas despesas com a expropriação de terrenos em São Martinho e com o projeto, mas tudo foi metido na gaveta. A nova opção foi ampliar o Hospital da Cruz de Carvalho para sul. Em 2011, seria mais barato ampliar para norte e construir a Escola noutro lugar. Mas como os diversos governos regionais atuaram sempre ao sabor do vento, com ausência de uma visão estratégica futura quanto à utilização dos espaços físicos existentes, remendando aqui e acolá com gastos avultados nas várias fases de remodelação do Hospital da Cruz de Carvalho, redundou em gastar dinheiro a torto e a direito por opções desacertadas e sem jeito.





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