Hospital
Novo, opções tardias
“Não podemos deixar passar sem reparo
esquecimento total de zonas de protecção e o atrofiamento do Hospital que se
vem verificando e que resulta da construção de edificações em todos os seus
quadrantes, a comprometer qualquer viabilidade de expansão futura.
Como não se compreende, de igual
modo, a construção de um Complexo destinado ao Ciclo Preparatório a norte do
Hospital apenas separado deste por uma estrada, o que não deixará de constituir
factor grave de perturbação sobretudo para os doentes”.
In «RELATÓRIO DE ACTIVIDADES» de
1975
do Hospital
Distrital do Funchal
Já, em 1975, foi questionada a
construção da Escola Dr. Horácio Bento de Gouveia pela sua proximidade ao
Hospital da Cruz de Carvalho, cujo funcionamento decorria, na altura, há cerca
de dois anos, bem como o atrofiamento a que o mesmo estava a ser sujeito nas
suas envolventes. Essa posição foi tomada pela Comissão Instaladora do Centro
Hospitalar do Funchal, no relatório referente ao ano de 1975.
Naquele ano, estava a ser
implementado o Centro Hospitalar do Funchal, do qual fariam parte os hospitais
da Cruz de Carvalho, Marmeleiros, Dr. João de Almada e o Pediátrico Santa
Isabel, embora não existisse ainda uma integração perfeita de todos os
serviços. O que diz aquele relatório é que o Hospital dos Marmeleiros (até
dezembro de 1974, pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Funchal e gerido
por esta) estava degradado. Apesar das carências em meios humanos e materiais,
verificadas no “hospital novo” o certo é ser “Também muito aceitável o nível do
Hospital Dr. João de Almada e Pediátrico Santa Isabel, mas francamente mau o do
Hospital dos Marmeleiros, a carecer de melhoramentos inadiáveis”.
Se parecia um dado adquirido que o
novo hospital iria solucionar o problema das instalações sem ter de haver
preocupação com a sua ampliação, o certo é que seria lógico admitir que, num
prazo mais ou menos longo, houvesse necessidade de mais espaço, devido ao
eventual aumento do número de utentes. Certamente foi essa a previsão da
Comissão Instaladora que entrou em funções no dia 23 de julho de 1975 e
elaborou o Relatório daquele ano.
O que se passou daí em diante foi
a permanência em funções daqueles hospitais, tendo sido submetido o dos
Marmeleiros a profundas obras de remodelação, assim como o da Cruz de Carvalho,
obras estas que nem sempre foram delineadas com rigor e com uma visão de
futuro.
A partir da regionalização do
sector da saúde (Dec-Lei nº 426/77, de 13/10), a grande preocupação do
executivo regional foi preocupar-se com a propaganda ao invocado “melhor
serviço de saúde do país”. As instalações pareciam perdurar eternamente, apesar
de o número de utentes continuar a aumentar. Os sucessivos alertas de alguns
profissionais do CHF caíram em saco roto.
Apesar de os terrenos a norte
serem área de expansão do «hospital novo», o que daria muito bem para construir
instalações novas, o Governo Regional optou em 2001 por inscrever verbas no
orçamento regional para ampliar a Escola Horácio Bento de Gouveia. E pela Resolução nº 138/2003 , “O Conselho
do Governo reunido em plenário em 6 de Fevereiro de 2003, resolveu aprovar o
Decreto Regulamentar Regional que sujeita a medidas preventivas os terrenos
localizados na área envolvente à nova unidade hospitalar a implantar no Funchal”,
em zona de bananeiras em
Santa Rita , S. Martinho.
Apesar da opção política de construir um hospital de raiz, o Hospital da
Cruz de Carvalho sofreu obras sucessivas, apesar do mesmo ser para “abater à
carga”. Até que, parecendo estar definitivamente assente a construção de um
hospital sem recurso à ampliação do actual, houve avultadas despesas com a
expropriação de terrenos em
São Martinho e com o projeto, mas tudo foi metido na gaveta.
A nova opção foi ampliar o Hospital da Cruz de Carvalho para sul. Em 2011,
seria mais barato ampliar para norte e construir a Escola noutro lugar. Mas
como os diversos governos regionais atuaram sempre ao sabor do vento, com
ausência de uma visão estratégica futura quanto à utilização dos espaços
físicos existentes, remendando aqui e acolá com gastos avultados nas várias
fases de remodelação do Hospital da Cruz de Carvalho, redundou em gastar
dinheiro a torto e a direito por opções desacertadas e sem jeito.
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