«Programa de Ajustamento Económico e Financeiro» feriu a Autonomia
da Madeira
“Lisboa está a exigir muito à Madeira (…) já
que Lisboa entende que, tal como nestes 30 anos, nós é que devemos assumir os
encargos de tudo o que fizemos, então isso só vai ajudar a demonstrar que os
madeirenses podem muito bem viver sem o Estado português (…) o Estado não gere
a dívida pública, mas tem nas mãos um mecanismo que lhe permite reter dinheiro
nosso, se não formos naquela linha que está a impor”.
Presidente
do Governo Regional, no almoço com autarcas na Calheta, 20/12/2011
As negociações do plano de ajuda financeira à Madeira determinaram a assinatura
da «Carta de Intenções», em 27/12/2011, e consequente «Programa de Ajustamento
Económico e Financeiro da Região Autónoma da Madeira», assinado em 27/01/2012. Foram
estes documentos fatais que ditaram a perda de autonomia conquistada em 1976, e
transformou Alberto João numa espécie de governador de distrito.
Expressões como “O Governo
Regional da Madeira compromete-se”, “O Governo Regional da Madeira obriga-se”,
“O Governo Regional da Madeira abster-se-á”, constituem uma inequívoca
capitulação/agachamento perante um Governo da República, em quem, durante a
campanha eleitoral, mandou votar, alegando ser preferível um governo do PSD,
com quem melhor negociaria os direitos e interesses da Madeira.
A «Carta de Intenções»
mais não é senão a subjugação a Lisboa, constituindo uma garantia para a
transferência de dinheiro para a Região. Só que Victor Gaspar – o Salazar do
século XXI - apenas disponibilizou 19
384 056,74 euros. Dinheiro que não chegou a entrar nos cofres da Região, mas
sim para pagar dívidas da Região relativamente a dívidas fiscais e regimes
contributivos. Ou seja, a Região não viu sequer um cêntimo nos seus cofres. Mas
o Presidnete do Governo Regional, quando assinou a «Carta de Intenções», sabia
que ficava sem qualquer poder para mexer em dinheiro emprestado. Além disso, a referida quantia
disponibilizada consta do empréstimo do Estado à Região, conforme decisão do
Governo Regional, na sua reunião plenária de 29/12/2011, publicada pela Resolução nº 1721/2011 no
JORAM nº 136, I Série, de 30 de Dezembro.
Se leu a carta que assinou, o Presidente
do Governo Regional não só reconhece que violou os limites de endividamento da
Região, estando tais limites previstos na Lei de Finanças das Regiões
Autónomas, mas também “obriga-se a que os créditos da República devam ser
reembolsados, de forma prioritária, sobre quaisquer outras responsabilidades
financeiras da Região Autónoma da Madeira”.
Mas a dependência da Madeira face a
Lisboa vai muito mais além.Vejamos os termos contemplados na carta, os quais
constituem uma verdadeira alienação da Autonomia:
- “Transferência da gestão da dívida
pública da Madeira para o IGCP e proibição do endividamento da RAM e do seu
sector empresarial fora do âmbito do Programa”;
- “Transferência das competências
administrativas da DRAF para a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) nas
matérias definidas no Memorando de Entendimento assinado pela República
Portuguesa com o FMI/União Europeia;
- “Incremento da qualidade e valia
técnica da Direcção Regional de Estatística da Madeira, através da planificação
e coordenação técnica do Instituto Nacional de Estatística, garantindo a
independência e isenção da produção de dados estatísticos”.
Para além da perda da autononia, quanto
à gestão da dívida, à Direcção Regional dos Assuntos Fiscais e da Estatística,
a «Carta de Intenções» engloba todas as exigências do Governo da República,
quanto ao aumento dos impostos e de preços dos produtos, configurando um
castigo para a população da Madeira, que pagará, sem dó nem piedade, as
asneiras financeiras feitas pelo Governo Regional ao longo dos anos, embora
sempre escondendo muita coisa à conta do voto do povo que elegeu o PSD-M em
sucessivas maiorias absolutas.
Ao fim e ao resto, o Presidente do
Governo acaba sempre por aceitar restrições e penalizações impostas à Madeira,
sem ter capacidade de negociar prazos mais alargados para evitar tão graves
aumentos a curto prazo, com prejuízos para as famílias e para a economia
regional. Mas invoca sempre o princípio da solidariedade nacional, esquecendo o
princípio da responsabilidade regional. Simplemente, este princípio foi imposto
pelos partidos que constituem o Governo da República – o PSD e o CDS.
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