Inflação de candidatos no PSD-Madeira
“Posso estar descansado porque sei ter no dr. Miguel de
Sousa uma
pessoa para assumir
mais responsabilidades a qualquer momento
que eu tenha de me
afastar”.
“Quero também dizer a
todos que é tempo perdido estarem a
procurar
envenenarem-me contra ele.
Contra ele ou contra
qualquer outro membro do Governo.
Sei que estas épocas são
muito favoráveis a isso, mas desenganem-se”.
Líder do PSD-M, no VI
Congresso Regional, abril 1989.
O unanimismo imposto aos social-democratas determinou a
manutenção de uma liderança forte e rígida, tal como no despotismo iluminado.
Nos sucessivos congressos, os militantes nunca tiveram preocupações em
encontrar candidatos alternativos. Sem qualquer dor de cabeça, os
social-democratas madeirenses viram-se sempre confrontados com o mesmo
candidato a líder partidário e a presidente do Governo Regional que, na
campanha para as eleições regionais de 1996, até chorou ao pedir ao povo que
votasse nele porque seria a última vez que se recandidatava; em 2000, não
chorou mas ainda assim disse que seria a última vez; no areal do Porto Santo,
afirmou que «Jardim sucedia a Jardim»; em 2004, continuou no Governo porque os
seus fidelíssimos seguidores tudo fizeram para manterem as benesses que, à sua mercê,
continuavam a auferir sem entraves.
Chegados ao presente momento, os
candidatos à liderança do PSD-M sofrem as agruras políticas perpetradas pelo
líder, tal qual fazia e faz aos partidos da oposição. Apesar de, hoje,
criticarem acerrimamente o ainda líder, ao longo dos anos posicionaram-se e
aplaudiram, efusivamente, o regional-radicalismo do chefe. Mudos ao longo de
mais de trinta anos, saíram da toca, onde hibernaram, quando ficou assente a
abertura da sucessão do “eterno líder”. Candidatos existem para todos os
gostos, constituindo uma verdadeira inflação nunca vista em fase de congressos
partidários na Região. Muito menos no PSD-M, em que o líder histórico, desde o
dia 21 de agosto de 1976, bastava para que mais ninguém se atrevesse a
confrontá-lo - caso excecional de Miguel Albuquerque no XIV Congresso Regional, em 2012.
Apesar do, só aparente, unanimismo, a “guerra fria” no
interior do PSD-M foi uma realidade desde há alguns anos. Pelo menos três
grupos com interesses diversos foram visíveis. Mas essa “luta fratricida” foi
sempre gerida de uma forma mais ou menos camuflada, que só era mais visível na
comunicação social quando o líder do partido estava fora da Região.
Com a vontade e prática políticas concentradas no líder, só este
marcava o compasso binário da música celestial do PSD-M: ora afirmava uma
coisa, depois contradizia o que antes tinha dito. A conveniência do momento
determinava o comportamento político do dia a dia, com utilização racional de
todos os espaços possíveis na comunicação social que lhe era fiel.
Quando chega à Quinta Vigia, o dia 17 de março
de 1978 marca a desejada viragem no seio do PSD-M que passou a ter os poderes
partidários e governamentais concentrados no seu líder.
Iniciava-se, deste modo, a etapa da GESTÃO POPULISTA
que ainda hoje perdura. A partir daí, o partido entrou numa fase a que poderei
chamar de «CENTRALISMO DEMOCRÁTICO» porquanto tudo passou a ser dirigido sob o
comando e ao toque de trombeta do chefe. O PSD-M ignorou as suas raízes ideológicas: a “linha
do socialismo personalista” era só para os “esquerdistas”.
“Comecei demasiado cedo na política, mas isso não é razão
para que nela continue muito tempo. Aliás, acaba sempre por haver um desgaste.
Gostaria apenas que ao PSD fosse dado em 1980 mais quatro anos de Governo para
completar o projecto autonómico e concretizar as novas estruturas da NOVA
MADEIRA. Depois, em 1984, talvez fosse a hora da Oposição, pois é útil o
rotativismo político, a reforma, a inovação. Seria a vez de passar o
testemunho. Nessa altura, o PSD regional já terá outros novos bons quadros”.
Estas afirmações,
proferidas por Alberto João no dia 12 de dezembro do longínquo ano de 1978,
pareciam naturais sob o ponto de vista político. Era o reconhecimento lógico da
alternância do poder em regime democrático. Era ter em conta a efectiva
existência duma oposição política capaz de ficar à frente dos destinos da
Região Autónoma.
Mas se, em 12 de dezembro de 1978, reconhecia tacitamente
uma oposição válida, capaz de alternar no poder, já, no dia 31 daquele mesmo
mês, essa mesma oposição política era denegrida, utilizando o requintado estilo
da clara e constante contradição, acrescida da ausência de ética política em
que os fins justificam todos os meios ao seu alcance.
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