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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Inflação de candidatos no PSD-Madeira

“Posso estar descansado porque sei ter no dr. Miguel de Sousa uma
 pessoa para assumir mais responsabilidades a qualquer momento
 que eu tenha de me afastar”.
 “Quero também dizer a todos que é tempo perdido estarem a
 procurar envenenarem-me contra ele.
 Contra ele ou contra qualquer outro membro do Governo.
Sei que estas épocas são muito favoráveis a isso, mas desenganem-se”.
Líder do PSD-M, no VI Congresso Regional, abril 1989.

O unanimismo imposto aos social-democratas determinou a manutenção de uma liderança forte e rígida, tal como no despotismo iluminado. Nos sucessivos congressos, os militantes nunca tiveram preocupações em encontrar candidatos alternativos. Sem qualquer dor de cabeça, os social-democratas madeirenses viram-se sempre confrontados com o mesmo candidato a líder partidário e a presidente do Governo Regional que, na campanha para as eleições regionais de 1996, até chorou ao pedir ao povo que votasse nele porque seria a última vez que se recandidatava; em 2000, não chorou mas ainda assim disse que seria a última vez; no areal do Porto Santo, afirmou que «Jardim sucedia a Jardim»; em 2004, continuou no Governo porque os seus fidelíssimos seguidores tudo fizeram para manterem as benesses que, à sua mercê, continuavam a auferir sem entraves.

Chegados ao presente momento, os candidatos à liderança do PSD-M sofrem as agruras políticas perpetradas pelo líder, tal qual fazia e faz aos partidos da oposição. Apesar de, hoje, criticarem acerrimamente o ainda líder, ao longo dos anos posicionaram-se e aplaudiram, efusivamente, o regional-radicalismo do chefe. Mudos ao longo de mais de trinta anos, saíram da toca, onde hibernaram, quando ficou assente a abertura da sucessão do “eterno líder”. Candidatos existem para todos os gostos, constituindo uma verdadeira inflação nunca vista em fase de congressos partidários na Região. Muito menos no PSD-M, em que o líder histórico, desde o dia 21 de agosto de 1976, bastava para que mais ninguém se atrevesse a confrontá-lo - caso excecional de Miguel Albuquerque no XIV Congresso Regional, em 2012.
Apesar do, só aparente, unanimismo, a “guerra fria” no interior do PSD-M foi uma realidade desde há alguns anos. Pelo menos três grupos com interesses diversos foram visíveis. Mas essa “luta fratricida” foi sempre gerida de uma forma mais ou menos camuflada, que só era mais visível na comunicação social quando o líder do partido estava fora da Região.

Com a vontade e prática políticas concentradas no líder, só este marcava o compasso binário da música celestial do PSD-M: ora afirmava uma coisa, depois contradizia o que antes tinha dito. A conveniência do momento determinava o comportamento político do dia a dia, com utilização racional de todos os espaços possíveis na comunicação social que lhe era fiel. 
Quando chega à Quinta Vigia, o dia 17 de março de 1978 marca a desejada viragem no seio do PSD-M que passou a ter os poderes partidários e governamentais concentrados no seu líder.
Iniciava-se, deste modo, a etapa da GESTÃO POPULISTA que ainda hoje perdura. A partir daí, o partido entrou numa fase a que poderei chamar de «CENTRALISMO DEMOCRÁTICO» porquanto tudo passou a ser dirigido sob o comando e ao toque de trombeta do chefe. O PSD-M  ignorou as suas raízes ideológicas: a “linha do socialismo personalista” era só para os “esquerdistas”.

“Comecei demasiado cedo na política, mas isso não é razão para que nela continue muito tempo. Aliás, acaba sempre por haver um desgaste. Gostaria apenas que ao PSD fosse dado em 1980 mais quatro anos de Governo para completar o projecto autonómico e concretizar as novas estruturas da NOVA MADEIRA. Depois, em 1984, talvez fosse a hora da Oposição, pois é útil o rotativismo político, a reforma, a inovação. Seria a vez de passar o testemunho. Nessa altura, o PSD regional já terá outros novos bons quadros”.
 Estas afirmações, proferidas por Alberto João no dia 12 de dezembro do longínquo ano de 1978, pareciam naturais sob o ponto de vista político. Era o reconhecimento lógico da alternância do poder em regime democrático. Era ter em conta a efectiva existência duma oposição política capaz de ficar à frente dos destinos da Região Autónoma.
Mas se, em 12 de dezembro de 1978, reconhecia tacitamente uma oposição válida, capaz de alternar no poder, já, no dia 31 daquele mesmo mês, essa mesma oposição política era denegrida, utilizando o requintado estilo da clara e constante contradição, acrescida da ausência de ética política em que os fins justificam todos os meios ao seu alcance.






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