38 anos, 4 meses e 20 dias a controlar o
PSD-Madeira
“Esta coisa de
dizer que não há ninguém,
levou a que
tivéssemos de aturar o dr. Salazar
durante 40
anos. As coisas não são assim.
Não há pessoas
insubstituíveis.
Num partido
grande como é o PSD, há muita
gente lá capaz
de fazer o meu lugar.
O meu problema
é mesmo esse:
a existência de
várias pessoas não vai fazer
com que o consenso à volta de uma só pessoa
seja fácil”.
Alberto João,
entrevista ao JM, 10/08/91.
Escolhido para liderar o PSD-Madeira a 21/8/1976, Alberto João Jardim (AJJ) manteve-se aos comandos
partidários durante 38 anos, 4 meses e 20 dias, num total de 14021dias, sem
qualquer interregno. Foi uma espécie de reinado absoluto, tudo controlando e
secando tudo à sua volta como se costuma dizer de um eucalipto.
Se
AJJ era um destacado elemento da Frente Centrista da Madeira, não fez parte da primeira
Comissão Organizadora do PPD na Madeira, quando, a 20 de agosto de 1974, a Comissão Organizadora Nacional, composta
por Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão, fez publicar no Jornal da
Madeira daquele dia uma informação anunciando:
“O
Partido Popular Democrático (P.P.D.) vai iniciar as suas actividades também no Distrito do Funchal. Assim, está em
constituição a respectiva Comissão
Organizadora, da qual estão incumbidos os srs. drs. Henrique Pontes Leça, Jorge
Malheiro Araújo e João Florêncio Gomes de Aguiar, bem como os srs. Jorge
Bettencourt Sardinha e Henrique Augusto Rodrigues Abrantes. A sua constituição
definitiva, todavia, será anunciada muito brevemente. Provisoriamente, enquanto
não instalada na sua sede, a Comissão Organizadora funcionará na Praça do
Município nº 8-1º Dtº, com o telefone 21833” .
No dizer de
Avelino Ferreira, “quem aparece como militante nº 1 do PPD/PSD é o senhor
António Gil que não consta da lista dos primeiros dinamizadores”. E se Sá
Carneiro e os restantes impulsionadores do PPD nacional conheciam AJJ, não foi
a este que recorreram para alargar o Partido à Madeira. Até duvido que a
inclusão de Jardim, que tinha sido fiel defensor e apoiante consciente do
salazarismo e do marcelismo, fosse pessoa de confiança dos fundadores do PPD
nacional, empenhados que foram da então “Ala Liberal”, oposicionista ao “Estado
Novo”. Até nos primeiros impulsionadores do PPD na Madeira a adesão de AJJ não
foi pacífica. Expressiva é a afirmação de Daniel Catanho de que nas primeiras
reuniões do PPD (já com a FCM integrada), “Alberto João Jardim não aparecia
sempre. Quando o fazia, assumia-se possessivo. Ele é que tinha sempre razão”.
As divergências deveriam ser tão grandes que, diz ainda aquele fundador, o seu
grupo “teve de fazer um comunicado a desautorizar um outro feito pelos antigos elementos
da Frente Centrista, intitulando-se Comissão Política do PPD”.
Apesar da
conflitualidade interna, o PPD na Madeira teve uma vitória retumbante nas
eleições para a Assembleia Constituinte, em 25/04/1975, obtendo 78.200 votos –
61,9%. Foi após essa vitória que a facção de AJJ tomou conta do PPD,
“expulsando” alguns dos
social-democratas da primeira hora. O Dr. Acácio Matias conta que pelo menos
esta vitória não foi obra do Dr Alberto João “porque não estava lá”.
Naturalmente
se ele é que queria impor a sua vontade, e não conseguiu, a opção foi deixar
tudo e seguir. Mas seguiu no dia 29 de outubro de 1974 para Director do Jornal
da Madeira, nomeado por D. Francisco Santana.
Tempo
depois de estar naquele Jornal, alguns elementos do PPD foram convidá-lo para
regressar à estrutura partidária, a tempo de integrar a lista de deputados para as primeiras eleições
regionais, realizadas no dia de 27 de junho de 1976, tendo sido o primeiro da
lista e, iniciadas as funções de deputado, o Grupo Parlamentar, composto de 29
deputados, elegeu-o, imediatamente, líder parlamentar. Mas só a 21 de agosto
daquele ano a sua escolha para orientar o PPD se tornou realidade, traçando o
destino da longa caminhada de líder absoluto, movendo, depois, todos os
cordelinhos internos para antecipar a realização do I Congresso Regional, com
vista a depor o então Presidente do I Governo Regional, Eng. Ornelas Camacho.
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