Consequências da retirada do gado das Serras
Passada uma década desde que culminou
a gadofobia serrana, que invadiu a política silvopastoril do Governo Regional,
vale a pena tecer algumas considerações acerca de algumas consequências da
retirada forçada das pacíficas ovelhas e cabras das serras da Madeira, apesar
de ter havido exceções: onde interessou, as protegidas ovelhas e vacas
mantiveram-se e ainda lá estão a pastar livremente.
Ao longo dos anos, foi titubeante a
política do Governo Regional quanto à pastorícia na Região, atuando com
arbitrariedade conforme as conveniências do momento. Nos anos oitenta, apoiou bastante
a constituição de associações de pastores com vista a melhor defenderem os seus
interesses na criação do gado, pondo em prática a lei da pastorícia em vigor. Também apoiou
com materiais a construção e recuperação de bardos, não só para evitar que o
gado passasse para terrenos cultivados, mas também para proteger algumas zonas
sensíveis das serras.
Foi a época em que as “tosquias políticas” eram
verdadeiras festas serranas que foram aproveitadas pelo Governo Regional para
intervenções político-partidárias de conveniência, fazendo publicidade dessas
festas na comunicação social.
Alguns anos depois, a política
silvopastoril regional foi desvairada ao obrigar os pastores a retirarem o gado
das serras (só de alguma parte das serras), sem nunca ter a coragem política de
legislar no sentido de proibir a criação de gado nas serras, mas apenas usando
meios arbitrários, mesmo para zonas de pastoreio em terrenos privados e
vedados, tendo como “justificação” o apoio financeiro da União Europeia com
vista à redução (e não retirada total) de efetivos agrícolas e de criação de
gado. A atuação foi como se essa lei obrigasse os criadores a desfazerem-se do
seu gado, mas não é essa orientação do Regulamento CEE nº 2078/92, de 30 de
Junho, e da Portaria nº 43/95 ,
de 21 de Março, da Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas.
Se o Governo Regional quisesse retirar o
gado das serras, não tinha proposto no Plano de Investimento da Região para o
ano de 2003, que “Em 2003 serão
implementadas, prioritariamente, acções que se inserem nas seguintes medidas: (...) Promover a redução da carga animal em zonas
de aptidão florestal, bem como o ordenamento da actividade silvo-pastoril em
zonas afectas a esse fim”.
Se
a prepotência governamental foi de obrigar a retirada das ovelhas e cabras,
pagando aos criadores uma quantia estipulada, já para aqueles que defendiam a
manutenção do gado nos seus terrenos privados o “pagamento” foi a retirada
forçada das ovelhas e a matança das cabras, deixando estas a “cozer” ao sol.
O que foi argumentado pelo Governo Regional
para a prática da gadofobia serrana foi a defesa do ambiente e a reflorestação
das zonas de pastoreio que vinham desde há umas centenas de anos. A invocação
das novas orientações mais parecia uma obsessão ideológica ambiental que uma
verdadeira política de ambiente. O caso paradigmático centrou-se nas serras do
Funchal. Foi inventado um “Tampão Verde” que iria dar àquelas serras uma
paisagem verdejante espetacular, que seria o símbolo e o argumento fabuloso dos
efeitos da ausência do “destruidor “ gado que, há muitos anos, limpava os fenos
e os silvados da área vedada onde pastava.
Mas o problema ambiental nas serras do
Funchal começou, precisamente, no momento de “glória” em que o Governo Regional
fez a “limpeza” do gado. Só que, em vez de fazer a prevenção daquelas serras
contra os hipotéticos incêndios, apenas se preocupou em fazer concursos para plantação
de árvores, mas sem cuidar da sua sobrevivência. Isto é, as árvores e arbustos
existentes, mais as árvores que foram plantadas, ficaram abandonados ao
infortúnio de estarem rodeados de ervas que, no verão, se transformaram no
combustível ideal para a propagação de incêndios.
Os incêndios de Agosto de 2010 deitaram por
terra toda a saloia teoria de que não basta gastar milhões de euros para
plantar árvores. Tudo o que existia nas serras do Funchal foi transformado dum
degradante “tampão cinzento”. Imediatamente, mais concursos para plantar
árvores! Mas, se houve a iniciativa para retirar as plantas ardidas, não vi que
houvesse concurso para limpar os “combustíveis” que aceleram a propagação de
incêndios.
Temos, assim, três grandes e
graves consequências dos incêndios que ocorreram em 2010, devido às cegas
decisões dos indiligentes gestores públicos regionais de obrigarem a retirada
do gado das serras do Funchal: facilitaram a propagação dos incêndios nas zonas
de pastoreio; retiraram rendimentos aos pastores; restringiram matéria prima
ao artesanato feito com lã de ovelha.
Sem gente incompetente a
governar, às cegas, a Região, tinha sido possível manter o gado nas serras,
mesmo que fosse necessário introduzir algum ajustamento para a guarda do gado.
E acredito que ainda é possível fazer algo, desde que não existam mentes rasas
neste âmbito do regime silvopastoril.
Sem comentários:
Enviar um comentário