Os programas eleitorais
não captam votos
Os resultados obtidos pelos diversos
partidos políticos/coligações nos 11 atos eleitorais, realizados desde 1976,
para a Assembleia Regional exigiriam uma análise e uma reflexão profundas, a
fim de se perceber as causas que teriam estado na origem das maiorias absolutas
obtidas pelo PSD-M em todos eles.
Mas apenas
fico na evidência dos resultados mais recentes, colocando a questão de saber se
a existência ou não de programas eleitorais é determinante para a obtenção de
votos. Isto é, os eleitores serão influenciados a votar numa determinada força
política/coligação só porque existe um programa mais ou menos volumoso com
ideias e propostas concretas? Definitivamente não. Se assim fosse, o PSD-M
perderia as últimas eleições, uma vez que apenas mencionou propostas avulsas e
sem garantia financeira para executá-las; mas a coligação «MUDANÇA»
provavelmente ganhava as eleições por ter feito um programa com 128 páginas A4;
o CDS teria mais votos pela publicidade que deu ao seu programa; o PCTP/MRPP
teria pelo menos um deputado para justificar o seu programa em livro de bolso.
Os
resultados tiveram mais a ver com a mudança de líder, no caso do PSD-M,
apelando ao voto no partido que tinha novos dirigentes, em que a «Renovação»
foi o lema mais adequado para garantir a governação da Madeira com mais
segurança. Mas apesar de uma aparente unidade interna, houve muitos militantes
do PSD-M que não votaram no seu partido. Isso vê-se na maioria absoluta com
resultado inferior à última de Albero João Jardim. Aliás, o PSD-M nunca teve
tão poucos votos e percentagem tão baixa como nesta última eleição.
A míngua de poder levou o CDS-M a uma estratégia de
uma grande propensão para coligar-se com o PSD-M, desejando não haver maioria
absoluta deste, usando argumentos falaciosos e pouco credíveis. O resultado foi
a perda de dois deputados e baixando em número de votos e percentagem, face a
2011. Foi uma das vítimas da novidade JPP, a quem deu apoio político, não
concorrendo em Santa Cruz
nas últimas eleições autárquicas, bem como investiu alguns milhares de euros
aquando dos incêndios naquele concelho, mas acabando esse apoio por beneficiar,
politicamente, mais os JPP do que o CDS.
O PS-M, em coligação com o MPT, PTP e PAN, foi o
que sofreu a maior derrota de sempre em atos eleitorais regionais. Perdeu em
toda a linha, juntamente com os parceiros da coligação. Ficou com 5 deputados,
igual número que teve em 1980, e o PTP ficou com um (menos dois que em 2011). O
MPT e o PAN ficaram sem deputados. O desastre foi de tal monta que a coligação
«Mudança» obteve menos de metade da soma dos votos obtidos em 2011 pelos
partidos agora coligados, sendo a percentagem (11,41%) inferior à que o PS
obteve em 2011 (11,5%) sem coligação.
O principal responsável pela estratégia suicida foi
o presidente do PS-M, Victor Freitas, que teve a lucidez de demitir-se na noite
em que saíram os resultados. Mas não foi apenas o Victor o responsável. Foram
também os que à sua volta permitiram uma leitura e decisão políticas de
promover uma coligação. Os órgãos do partido e a concelhia do Funchal, em
13/01/2015, fizeram tudo ao exortarem a direção do PS-M “em nome do futuro da
Região e da necessária estabilidade política, a liderar uma alternativa
ganhadora, numa conjuntura de vontades com outras forças politicas”. Todos
foram levados pela obsessão da vitória (relativa) nas eleições autárquicas no
Funchal. O mote já tinha sido dado na sequência da reunião da Comissão Política
Regional, realizada no dia 4 de outubro de 2013, com a manifestação de vontade
de Victor Freitas para uma coligação com outros partidos, sendo o PS a
liderá-la porque “é a principal força autárquica na Região Autónoma da
Madeira”. Esta posição política assassina marcou o início da perda de força do
PS-M na sua dinamização autónoma com vista a uma vitória nas eleições
regionais. Outro grave erro foi não ter concorrido nas eleições autárquicas em São Vicente e em Santa Cruz , tendo dado
apoio aos independentes naqueles concelhos. E a coligação, nestas eleições, nem
sequer ganhou nos concelhos onde o PS governa as câmaras municipais! A falta de
capacidade política e os graves erros estratégicos custaram muito caro ao PS-M,
o que levará algum tempo para sair da hecatombe sofrida.
No fim das contas feitas, os partidos da oposição
ao PSD benefiaciados foram o JPP, que ficou ao nível do PS, o BE e a CDU.
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