O «Tratado
Orçamental» é uma fraude
Quando, a 7/2/1992, os doze Estados membros
da União Europeia subscreveram, em Maastricht, o Tratado da União Europeia , ficou
consagrado no artº 104-C o princípio de que “Os Estados membros devem evitar
défices orçamentais excessivos”, cujos valores de referência foram
especificados em Protocolo anexo, estabelecendo:
- “3% para a relação entre o défice
orçamental programado ou verificado e o produto interno bruto a preços de
mercado;
- 60% para a relação entre a dívida pública
e o produto interno bruto a preços de mercado”.
Na assinatura daquele tratado,
conhecido por Tratado de Maastricht, Portugal foi representado pelo Ministro
dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, e pelo Ministro das Finanças,
Jorge Braga de Macedo. E, depois, foi aprovado pela Resolução da Assembleia da República nº 40/92 ,
a 10/12/1992, ratificado pelo Presidente da República, Mário Soares, a 17
daquele mês, tendo sido referendado nesse mesmo dia pelo Primeiro-Ministro,
Cavaco Silva.
Ao longo dos anos, a rigidez
daqueles valores foram sempre ultrapassados por quase todos os Estados membros,
mesmo por aqueles que são considerados o motor da economia europeia e que
impõem medidas destruidoras aos Estados financeira e economicamente mais
frágeis. Apesar disso, exigem a subjugação de Estados a tomar medidas para
atingir um défice orçamental de 3% do PIB e a não ultrapassar a dívida em 60%
do PIB. Apesar de haver exceções temporárias para tal cumprimento, desde que as
circunstâncias o justifiquem, os governos subservientes de direita, em vez de
cortarem nas “gorduras do Estado”, fazem os cidadãos apertar o cinto, cortando
salários, pensões, congelando careiras dos funcionários públicos, aumentando os
impostos e reduzindo o investimento. Tudo em nome dos «mercados» – credores –
que exigem o seu direito de preferência no pagamento do dinheiro que emprestam.
Foi precisamente devido às
políticas financeiras especulaticas movidas pelos incompetentes dirigentes
europeus que surge a ideia parasitária de fazer aprovar o Tratado sobre
Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária,
abreviadamente designado «Tratado Orçamental». O argumento foi estabilizar a
zona euro e recolocar a Europa na rota do crescimento económico e do emprego,
mas exigindo mais apertada disciplina orçamental do que a estabelecida no
Tratado de Maastricht: o défice estrutural passaria a ser de 0,5% do PIB a
preços de mercado, e se a dívida pública exceder os 60%, o Estado membro deve reduzi-la
um vigésimo por ano como padrão de referência. Sem alterar o Tratado de 1992,
este novo Tratado é uma verdadeira fraude no direito europeu, a qual estende-se
aos Estados subscritores.
Aprovado em Bruxelas a 2/3/2012, o Reino
Unido e a República Checa não
subscreveram o Tratado Orçamental, que entrou em vigor a 1 de Janeiro de
2013. Portugal, com o obediente Governo de Passos Coelho, foi o primeiro Estado
a ratificar aquele Tratado, o que aconteceu pela Resolução da Assembleia da República nº 84/2012 ,
aprovada no plenário de 13 de Abril de 2012, e ratificado por Cavaco Silva a 25
de Junho do mesmo ano.
Proposta a ratificação pelo Governo,
naquele fatídico dia 13/4/2012 o fraudulento Tratado Orçamental foi aprovado
pelo PSD, CDS e PS. Votaram contra o PCP, BE e Verdes.
Dos deputados do PS, Rui Pedro Duarte e
Pedro Alves abstiveram-se e fizeram declaração de voto. Os deputados do PS,
João Galamba, Isabel Moreira e Pedro Nuno Santos votaram a favor mas fizeram
declaração de voto. Dos deputados do PSD, Duarte Pacheco e Miguel Frasquilho,
embora votando a favor, fizeram declaração de voto.
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