Que Governo
teremos?
Após seis governos provisórios e dezanove
após a aprovação da Constituição da República ,
segue-se o vigésimo, sem ainda sabermos como e por quem será constituído. No
dia em que escrevo este texto, quem está a dialogar com todos os partidos
representados na nova Assembleia da República é António Costa. A maioria
relativa da coligação «PàF» está expectante quanto a saber se o PS apoia um
governo PSD/CDS ou se forma um governo apoiado pelo BE e pela CDU.
Como é o PS que tem a chave e a decisão na
mão, estamos num momento histórico de ser possível um governo do PS, desde que
o BE e a CDU (PCP e Verdes) o queiram. Mas se isso acontecer é necessário as
três forças políticas acertarem os termos de um acordo escrito que seja
cumprível. Sabemos as diferenças programáticas entre o PS e os restantes.
Aquele mais moderado ao centro-esquerda, estes com políticas radicais e
antagónicas em pontos-chave da vida nacional: quanto à União Europeia, Euro,
Tratado Orçamental e Programa de Estabilidade…
Se o PS, BE e CDU abdicarem de algumas
propostas fraturantes e desde que encontrem um caminho largo a percorrer para
atingir uma meta que seja favorável e que a coligação «PàF» não seja capaz de o
fazer, não vejo razão para não experimentar um governo PS com apoio parlamentar
daqueles partidos. E o PS a apoiar a nova coligação? Se houver impossibilidade
com os restantes, a alternativa pode ser óbvia, mas com segurança e
compromissos com Passos Coelho e Paulo Portas só escritos, não vá o diabo
tecê-las.
Relevante é o facto de 2 734 770 votos
serem o total do PS, BE e CDU. E 1 979 132 votos foi quanto a coligação «P à F»
obteve.
Para mal dos pecados socialistas, foi
António José Seguro e o seu grupo parlamentar na Assembleia que fez coro
múltiplo na aprovação do Tratado Orçamental, subjugando-se a ordens impostas
não só do exterior, mas também vindas do Governo PSD/CDS, obrigando o País a
cumprir metas orçamentais mais restritivas do que aquelas que vigoram no
Tratado de Maastricht, desde 1992. Para a direita europeia e nacional, a ação é
aprovar tratados de qualquer maneira, numa diarreia legislativa, em estado de
mendicidade política.
A discussão de projetos de resolução na
sessão da Assembleia da República, no dia 24 de abril de 2015, revelam bem a
posição dos partidos proponentes e a recusa do PSD e CDS quanto aos projetos da
oposição. Foram rejeitados os projetos de resolução:
- nº 1416/XII (4.ª) que recusa a
continuação da política de direita e propõe uma política alternativa,
patriótica e de esquerda (PCP);
- nº 1440/XII (4.ª) — Para garantir um
caminho de desenvolvimento em Portugal, com justiça e igualdade (Os Verdes);
- nº 1442/XII (4.ª) — Recomenda ao Governo
que proceda a uma revisão do Programa de Estabilidade 2015- 2019 de modo a
incluir medidas de política que promovam o investimento, o crescimento e o
emprego (PS);
- nº 1443/XII (4.ª) — Medidas necessárias
para romper com a austeridade (BE).
Mas foi aprovado
o projeto de resolução n.º
1441/XII (4.ª) — Sobre o Programa de Estabilidade 2015- 2019
(PSD e CDS-PP). Com a aprovação desta resolução, a extinta Assembleia da
República resolveu:
- Assumir como
prioridade para o próximo quadriénio a promoção de um crescimento económico
sustentado, criador de emprego e facilitador de uma mais rápida inclusão
social; melhorar a remuneração salarial, embora aprovar a estratégia orçamental
definida no Programa de Estabilidade 2015-2019; recuperar o emprego e a
recuperação do rendimento dos portugueses, constituindo uma nova fase de
progresso económico e social.
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