O PS-Madeira
de 1 de setembro de 1974
Com a «Revolução de Abril de 1974», não
tardou muito tempo para o Partido Socialista estender a sua acção à Madeira. Gil
Martins, um dos fundadores do partido na Alemanha, regressou à Madeira em junho
de 1974, tendo a tarefa política de encontrar aderentes junto das pessoas mais
identificadas com a esquerda. Os primeiros contactos levados a cabo por Gil
Martins teriam sido junto dos padres progressistas do Pombal.
Com reuniões, primeiro em casas
particulares e depois na sua sede da Rua de João Tavira, o certo é que o
recrutamento foi avançando até que, no dia 01/09/1974, o grupo dinamizador fez
a inscrição oficial dos primeiros aderentes ao Partido Socialista. Poder-se-á,
assim, considerar que a data oficial da criação do PS-M foi naquele primeiro
dia de setembro do ano da Revolução.
Mas o papel desenvolvido pelo grupo
dinamizador do PS não se limitou a encontrar e inscrever aderentes. Teve também
a função de participar em reuniões com as entidades oficiais com vista a
definirem a estratégia administrativa regional na fase de transição. Não se
poupou a manifestar-se publicamente sobre a situação política então vivida,
preocupando-se com a realidade madeirense e do futuro da Autonomia. Daí, no dia
08/11/1974, a Secção do Funchal (assim era designada a estrutura regional) assinou
e fez publicar no Diário de Notícias do dia 10 um memorando que analisa a
problemática sócio-económica da Região e propondo algumas medidas gerais para a
sua resolução. Aliás, não só foi o primeiro documento em defesa da
descentralização do Poder Político e da Autonomia, como também o primeiro
Partido a fazê-lo.
O PS, no memorando de Novembro de 1974, teve em conta:
- “O Estado fascista nunca tratou os madeirenses como portugueses de
pleno direito”;
- reclama “a anulação do
estatuto de autonomia fascista e colonial de Marcelo Caetano”;
- propôs “a construção de uma nova autonomia baseada numa Assembleia
Regional”;
- critica os “ grupos ligados à burguesia parasitária madeirense”;
- defende a “reforma administrativa e financeira e o planeamento total
do arquipélago com vista a ultrapassar a
falta de estruturas e a incapacidade das existentes”;
- “dar garantias de autonomia
financeira e administrativa com um Plano Regional controlado politicamente por
uma Assembleia eleita por sufrágio regional”;
- refere que “a economia madeirense continuava a ser uma
economia de sobrevivência”;
- utilizando o conceito de economia planificada, então vigente no
programa e discurso do PS, afirma
com convicção que “Vive-se ainda com demasiada fé nos
mecanismos de mercado, sem dar atenção à planificação com finalidade social das
actividades”;
- propunha-se “acabar com o regime da Colonia defendendo uma reforma
agrária e a reestruturação do artesanato (bordados e obra de vimes) e a
implementação da construção civil”;
- propôs que “ A economia da Madeira necessita de soluções especiais
devido à sua tipicidade e à sua unidade geográfica que só devem ser limitadas
no que vierem a contrariar os interesses nacionais (...)”, acrescentando que “o
PLANO ECONÓMICO DO PAÍS não é a simples soma dos planos das suas regiões”;
- propõe que “a Madeira seja declarada zona piloto de planificação
regional”.
O PS continuou a sua campanha de
implantação na Região solicitando escolas para sessões de esclarecimento e
encontro de jovens no Ginásio da Escola Industrial e fazendo comunicados sobre
vários aspectos da vida social e económica madeirense.
Dois anos depois, a Autonomia constitucionalmente consagrada determinou
uma via que, em muitos planos de ação, abarcou algumas propostas do PS-M.
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