Da confiança à crise dos Bancos (1)
Ao longo da
história do sistema financeiro, os bancos sempre estiveram na linha da frente
da credibilidade dos serviços quanto à garantia dos depósitos,
independentemente da quantia depositada, e dos créditos concedidos. A boa fé
constituiu um fundamental elemento no cumprimento das relações
Banco/Cliente/Banco.
Os primórdios das
instituições financeiras em Portugal marcam a criação do primeiro Banco há 208
anos: em 1808, foi criado o primeiro banco – o Banco do Brasil – não em
Lisboa mas no Rio de Janeiro, com capital de 1.200 contos de reis.
O comércio da época dos Descobrimentos teve
muito a ver com a troca directa de produtos levados pelos marinheiros e
aquisição de outros. Mas também foi praticado o uso de várias formas de moeda
que, inicialmente, foi cunhada em ouro ou noutros metais nobres.
As várias metamorfoses do Papel-moeda em
Portugal leva-nos a 1687 com a primeira experiência conhecida do uso do papel
como forma de dinheiro, quando D. Pedro II determinou que os “Escritos da Casa
da Moeda passados em troca de moeda cerceada corram como dinheiro de contado”;
em 1757, as instituições denominadas Depósito Público e as Companhias do
Grão-Pará e de Pernambuco funcionavam como bancos; em 1766, foram declaradas
como «dinheiro líquido» para girarem no comércio as Apólices das Companhias
Gerais; em 1784, D. Maria I ordenou que os “Escritos das Alfândegas gyrem no
commercio como dinheiro corrente”; em 1797, é instituída oficialmente a
utilização do papel como meio generalizado de pagamento – as «Apólices Pequenas»
do Real Erário; em 1800, foi estabelecida uma Caixa de Desconto para receber e
descontar Apólices Pequenas, tendo D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Presidente do
Real Erário, proposto, entre outras medidas para amortização do papel-moeda, a
criação de um Banco.
Em 1816, João Fletcher apresentou um
projecto para a criação de um Banco público em Lisboa, tendo, em 29/12/1821,
reunido as Cortes que debateu o problema da dívida pública e do papel-moeda,
sendo aprovado o decreto criando o Banco de Lisboa. A Carta de Lei de 31 de
dezembro daquele ano pôs em execução o decreto das Cortes, determinando que o
novo banco “poderá emitir notas pagáveis ao portador em metal ou letras à
ordem...”, o qual começou a funcionar em 21/8/1822, sendo emitidas as primeiras
notas.
Em 1834, foi extinto o papel-moeda e o
Banco de Lisboa foi encarregado da sua amortização e, no ano seguinte, alguns
títulos do Tesouro Público foram admitidos na compra de bens nacionais “como se
fossem moeda corrente”, surgindo, em 1837, Bilhetes de Tesouro que foram
recebidos nas Repartições Fiscais como dinheiro contado.
Entre 1838 e 1844 são criadas, com o
concurso do Banco de Lisboa, várias companhias financeiras, por exemplo,
Confiança, Crédito Nacional, União, Auxiliar e Confiança Nacional, com a
finalidade de conceder empréstimos ao Governo, as quais emitiram títulos
pagáveis à vista e ao portador designadas «notas promissórias» ou «bilhetes»
muito semelhantes às notas do Banco de Lisboa.
A crise económica geral teve efeitos
negativos no Banco de Lisboa e nas companhias financeiras, tendo o Governo
obrigado este Banco e a Companhia Confiança Nacional a suspender, por algum
tempo, os seus pagamentos com as repetivas notas, surgindo a ideia da fusão de
ambos. No dia 04/11/1846, o Governo enviou ao Banco de Lisboa as bases da sua
reabilitação e, no dia 19, foi assinado o decreto que integra o ativo e o
passivo da Companhia Confiança Nacional no ativo e passivo do Banco de Lisboa,
que passou a Banco de Portugal,
começando a funcionar no dia 2 de Dezembro daquele ano.
(continua)
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