Da confiança à crise dos Bancos (2)
Não foi a criação e início de atividade do
Banco de Portugal, em 02/12/1846, que determinou estabilidade no sistema
financeiro português. O modelo bancário de meados do Século XIX era frágil e
sem determinação clara quanto à moeda em circulação.
A
prova está na Carta de Lei de 16/04/1850 que considerou injustificado o
monopólio da emissão de notas para o Continente, limitando o privilégio de
emissão de notas pelo Banco de Portugal ao Distrito de Lisboa, e tornando
possível a criação de outros bancos emissores para o Continente e Ilhas:
- em 1856 foi criado o Banco Mercantil
Portuense;
- em 1861 foram criados o Banco União do
Porto e a Nova Companhia Utilidade Pública, no Porto;
- em 1863 foi criado o Banco Aliança, no
Porto;
- em 1864 foi criado o Banco do Minho,
Braga;
- pela Carta Régia de 16/05/1864 - assinada
em Sintra pelo rei D. Luís e referendada por Mendes Leal, Ministro da Marinha e
do Ultramar, e por João Crisóstomo de Abreu e Sousa, Ministro das Obras
Públicas, Comércio e Indústria - foi criado
o Banco Nacional Ultramarino, que teve como principal função a emissão de notas
para as colónias portuguesas em África e Ásia. Função que desempenhou em
partilha com as Juntas da Fazenda existentes, tendo, em 1865, iniciado a sua
atividade comercial e emissão de notas em África. Na sua história é
referido que “A instituição de um banco privado emissor para todo o Ultramar,
que ao mesmo tempo podia praticar na Metrópole todas as operações permitidas
por lei a que se não opusesse o privilégio do Banco de Portugal, é uma
concepção verdadeiramente original”. Em 1926, o reflexo de vários fatores
decorrentes da crise económico-financeira em Angola, assim como as fraudes
ocorridas pelo Banco «Angola e Metrópole», levou à criação de um banco emissor
específico para aquela colónia - o Banco de Angola, deixando o BNU de emitir
moeda para Angola. Em 2001, o BNU foi integrado na Caixa Geral de Depósitos com
o seu ativo e passivo;
- em 1873 foram criados o Banco Comercial
de Braga, (colapsou com a crise financeira de 1876) e o Banco de Guimarães;
- em 25/4/1875 foram aprovados os estatutos
do Banco Comercial da Madeira, sendo instalado em 1 de Junho daquele ano com o
capital de 1 200 contos, dividido em ações de 100$000 reis, com a maior parte
das ações adquiridas na cidade do Porto. Uma das funções era emitir notas ao
portador; receber depósitos em conta corrente e a prazo fixo, pagando juros aos
clientes; descontava letras de câmbio, títulos comerciais e títulos do Estado e
de quaiquer estabelecimentos públicos, empréstimos sobre hipotecas; liquidações
de heranças e operações de crédito agrícola e industrial.
Com os lucros obtidos, foram distribuídos
dividendos aos acionistas até 1883, inclusive. A partir daí os problemas
financeiros determinaram a sua dissolução em 1887, com prejuízo para os
acionistas, em parte devido a não estarem garantidos muitos dos seus capitais;
- pela Carta de
Lei de 10/04/1876 foi criada a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Sucedeu ao
Depósito Público de Lisboa e Porto, de criação pombalina. Funcionalmente teve
metamorfoses, mas em 1993 (Decreto-Lei
nº 287/93 ) deixou a designação de Caixa Geral de Depósitos,
Crédito e Previdência, passando a ser equiparada aos Bancos, como S.A..
Com a Lei de 29 de julho e o Contrato de 10
de dezembro, ambos de 1887, houve a tentativa de acabar com os vários Bancos
emissores, o que só veio a verificar-se com o acordo de 8 de Julho de 1891,
ratificado pelo Decreto dessa data, tendo o Banco de Portugal assumido como
suas as notas, ainda em circulação, dos restantes Bancos emissores.
(continua)
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