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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Da confiança à crise dos Bancos (3)

Se o século XIX marca o aparecimento dos primeiros Bancos, também revela a sua fragilidade no seio do sistema financeiro em geral, com multiplicidade e rápido desaparecimento de alguns e/ou fusão entre outros.
Foi naquele contexto que, em 02/04/1879, nasce a CEF – Caixa Económica do Funchal, anexa à Associação de Socorros Mútuos “4 de Setembro 1862”. A ideia parte na sequência da decisão da Asembleia Geral da Associação, realizada no dia 27 de janeiro daquele ano, apesar de os primeiros passos terem sido dados na Assembleia Geral de 17/06/1866. O «Diário de Notícias» de 03/04/1879 deu a seguinte notícia: “Abriu-se hontem a Caixa Económica da Associação de Beneficiência, como estava annunciado, entrando em depósito 426$500 rs, que serão dados a juros de 8% o anno, sob penhores ou hypothecas”.

A história da Associação e a da sua Caixa Económica revela um riquíssimo número de factos com períodos de prosperidade e outros de penosos sacrifícios de sobrevivência. Pouco depois do 25 de Abril de 1974, a dinâmica de promoção da CEF levou à divulgação da sua história na imprensa regional. É essa informação que guardo com muito interesse, da qual relevo:
- Desde a abertura até 30 de Junho do mesmo ano, a CEF recebeu de depósitos 12 134$078 reis.
- O primeiro financiamento solicitado à CEF teve lugar a 15 de Julho do ano da sua criação, sendo o valor pedido, por hipoteca, 7 363$000 reis, embora apenas tivesse sido possível conceder 3 700$000.
- No final de 1880, a Associação estava em crise financeira, tendo tomado medidas urgentes para o aumento de sócios que, em junho de 1882, eram 2 461.
- Em 1888, devido a muitos sócios  terem quotas em atraso, a Associação despediu 1 103.
- Em 07/12/1889, a Associação adquire o Prédio da esquina da Rua João Tavira e Rua do Bispo, por 6 562$377 reis.
- Em 1903, a normalidade da CEF foi afetada pelos muitos e avultados levantamentos de dinheiro, tendo sido considerado pelos responsáveis dever-se à saída da Madeira de muitos seus depositantes.
- Em 1907, surgiu um boato de que a CEF “abriria falência”, tendo a direção prometido 50$000 reis a quem descobrisse  “o autor ou autores de tal boato”. O certo é que nada foi apurado.
- Apesar da crise económica e financeira durante a I Guerra Mundial, terminada esta a CEF beneficiou do aumento de movimentos de depósito, tendo sido, em 1922, ventilada a hipótese de a transformar em Banco, o que não aconteceu.
- Em 1929, ocorreram boatos de que estava em situação difícil a Casa Bancária Reid`s Castro e Cª, onde a CEF e a Associação tinham dinheiro depositado, tendo conseguido proceder a levantamentos sucessivos.
- Em 1930, nova situação surgiu com a suspensão dos pagamentos das Casas Bancárias Sardinha e Cª e Henrique Figueira da Silva (a primeira fechou a 19 e a segunda a 20 de novembro daquele ano), o que também levou ao pânico dos clientes depositantes da CEF, tendo acorrido a levantamentos. A Associação/CEF, com mais de 300 contos depositados naquelas Casas Bancárias, viu-se forçada a solicitar financiamento ao Banco de Portugal, pela via de letras sacadas por comerciantes  e aceites pela Direção e Conselho Fiscal. Houve também recurso à Companhia de Seguros Aliança Madeirense, por cessão de crédito hipotecário de um benemérito. Assim como à Caixa Geral de Depósitos, “em empréstimo de 1000 contos no regime de conta corrente para ser utilizado conforme fosse necessário, com garantia de penhor constituído sobre os  créditos hipotecários que figuravam no ativo patrimonial da Associação”.

(continua)

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