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quarta-feira, 30 de março de 2016

Da confiança à crise dos Bancos (7)

O ano de 1987 representou para o sistema financeiro português em geral uma fase de muitas espetativas quanto ao futuro e, especialmente, em relação aos Bancos públicos. Tratava-se não só dos Bancos privados pretenderem a criação de Papel Comercial, como também todo o sistema desejar mais operações no mercado monetário e criação de um fundo de garantia de depósitos.
A Caixa Económica do Funchal (CEF) foi atingida com os reflexos do que aconteceu no restante mundo financeiro que, somando aos problemas internos, levou à criação do BANIF - Banco Internacional do Funchal S.A., passados 109 anos após a criação daquela Caixa Económica.
O Governo Regional, cliente e principal apoiante da política seguida pela CEF, quando se deu de conta do estado financeiro da “única instituição de crédito madeirense”, inclusivamente quanto à avultada admissão de pessoal, impulsionou contactos com o Governo da República para encontrar uma solução airosa para aquela instituição financeira.

Matriculada na Conservatória do Registo Comercial do Funchal, sob o nº 3658, o nascimento da sociedade BANIF – Banco Internacional do Funchal, S.A. evitou a falência da CEF. O dia 15/01/1988 foi o dia crucial para a salvação dos depositantes daquela Caixa. Foi a data apropriada para varrer os armários da centenária instituição, passando o activo e passivo para o património do novel Banco.
Da extinta CEF também foram transferidos para o BANIF 9,8 milhões de contos de prejuízos acumulados. Só o Governo Regional devia milhões de contos à extinta CEF, através de uma conta corrente que era utilizada para se financiar. O BANIF conseguiu em três anos “limpar” os prejuízos herdados da CEF, passando a poder distribuir dividendos aos acionistas.

Ao contrário do que muita gente possa pensar, o BANIF só nasceu porque o Governo da República investiu muito dinheiro, sendo o maior acionista daquele Banco. Cavaco Silva era Primeiro-Ministro e Miguel Cadilhe o Ministro das Finanças. Ambos aceitaram aplicar dinheiro dos contribuintes no BANIF para salvar a CEF.
O BANIF foi constituído com o capital inicial de 11 milhões de contos. Em julho do mesmo ano, o capital passou para 15 milhões e, em 30/01/1989, a assembleia de acionistas deliberou aumentar para 17,5 milhões de contos, montante que se manteve até 18/03/1996, altura em que passou para 22,5 milhões de contos. No aumento do capital para 17,5 milhões de contos, a emissão de 2,5 milhões de acções, no valor nominal de 1.000$00 cada e o ágio de 1.000$00 por ação, foi limitada ao acionista Estado Português que o realizou totalmente.

Quando em 20/02/1991 foi publicada na imprensa regional a lista dos 990 accionistas do BANIF, a Direcção-Geral do Tesouro tinha 1.841.000 acções; a Caixa Geral de Depósitos, 800.000; o  Instituto de Seguros de Portugal/Fundo de Garantia Auto, 880.001; a União de Bancos Portugueses (nacionalizado), 1.871.835; a Empresa de Electricidade da Madeira, 258.000; os Cimentos Madeira, 101.489; a Empresa  Madeirense de Tabacos, 300.416.
O maior accionista privado era Horácio Roque com 1.596.547 acções. José Berardo e a sua Fundação tinham juntos apenas 506.992. A Associação de Socorros Mútuos «4 de Setembro de 1862» também ficou acionista com 432.116 acções.

Para gerir o BANIF foi chamado o Dr.Raul Capela, tendo afirmado que “a CEF promoveu o aumento excessivo do seu quadro de pessoal, na sua generalidade de baixo nível técnico e profissional, e nalguns casos ético e deontológico numa evidente perda de controlo”. De tal ordem que o novo Banco deparou-se com 446 trabalhadores.


 (continua)

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