Da confiança à crise dos Bancos (7)
O ano de 1987 representou para o
sistema financeiro português em geral uma fase de muitas espetativas quanto ao
futuro e, especialmente, em relação aos Bancos públicos. Tratava-se não só dos
Bancos privados pretenderem a criação de Papel Comercial, como também todo o
sistema desejar mais operações no mercado monetário e criação de um fundo de
garantia de depósitos.
A Caixa Económica do Funchal
(CEF) foi atingida com os reflexos do que aconteceu
no restante mundo financeiro que, somando aos problemas internos, levou à
criação do BANIF - Banco Internacional do Funchal S.A., passados 109
anos após a criação daquela Caixa Económica.
O Governo Regional, cliente e principal apoiante da política
seguida pela CEF, quando se deu de conta do estado financeiro da “única
instituição de crédito madeirense”, inclusivamente quanto à avultada admissão
de pessoal, impulsionou contactos com o Governo da República para encontrar uma
solução airosa para aquela instituição financeira.
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial do Funchal,
sob o nº 3658, o nascimento da sociedade BANIF – Banco Internacional do
Funchal, S.A. evitou a falência da CEF. O dia 15/01/1988 foi o dia crucial para
a salvação dos depositantes daquela Caixa. Foi a data apropriada para varrer os
armários da centenária instituição, passando o activo e passivo para o
património do novel Banco.
Da extinta CEF também foram transferidos para o BANIF 9,8
milhões de contos de prejuízos acumulados. Só o Governo Regional devia milhões
de contos à extinta CEF, através de uma conta corrente que era utilizada para
se financiar. O BANIF conseguiu em três anos “limpar” os prejuízos herdados da
CEF, passando a poder distribuir dividendos aos acionistas.
Ao contrário do que muita gente possa pensar, o BANIF só
nasceu porque o Governo da República investiu muito dinheiro, sendo o maior
acionista daquele Banco. Cavaco Silva era Primeiro-Ministro e Miguel Cadilhe o
Ministro das Finanças. Ambos aceitaram aplicar dinheiro dos contribuintes no
BANIF para salvar a CEF.
O BANIF foi constituído com o capital inicial de 11 milhões de
contos. Em julho do mesmo ano, o capital passou para 15 milhões e, em
30/01/1989, a assembleia de acionistas deliberou aumentar para 17,5 milhões de
contos, montante que se manteve até 18/03/1996, altura em que passou para 22,5
milhões de contos. No aumento do capital para 17,5 milhões de contos, a emissão
de 2,5 milhões de acções, no valor nominal de 1.000$00 cada e o ágio de
1.000$00 por ação, foi limitada ao acionista Estado Português que o realizou
totalmente.
Quando em 20/02/1991 foi publicada na imprensa regional a
lista dos 990 accionistas do BANIF, a Direcção-Geral do Tesouro tinha 1.841.000
acções; a Caixa Geral de Depósitos, 800.000; o
Instituto de Seguros de Portugal/Fundo de Garantia Auto, 880.001; a
União de Bancos Portugueses (nacionalizado), 1.871.835; a Empresa de
Electricidade da Madeira, 258.000; os Cimentos Madeira, 101.489; a Empresa Madeirense de Tabacos, 300.416.
O maior accionista privado era Horácio Roque com 1.596.547
acções. José Berardo e a sua Fundação tinham juntos apenas 506.992. A
Associação de Socorros Mútuos «4 de Setembro de 1862» também ficou acionista
com 432.116 acções.
Para gerir o BANIF foi chamado o Dr.Raul Capela, tendo
afirmado que “a CEF promoveu o aumento excessivo do seu quadro de pessoal, na
sua generalidade de baixo nível técnico e profissional, e nalguns casos ético e
deontológico numa evidente perda de controlo”. De tal ordem que o novo Banco
deparou-se com 446 trabalhadores.
(continua)
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