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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Da confiança à crise dos Bancos (34)

O ano de 2014 marca uma dramática viragem na tradicional gestão da Família Espírito Santo no BESCL, através do “insubstituível” Ricardo Salgado, caído em desgraça perante o Regulador, chamado Banco de Portugal. Para substituição daquele esteve previsto Amílcar Morais Pires – indicado pela Família Espírito Santo -  mas acabando por recair a função em Vítor Bento.
Amílcar Morais Pires era administrador do BES e foi o dinamizador da operação do aumento de capital em 1.010 milhões de euros, operação essa que revelou a existência de problemas no seio do Grupo Espírito Santo. Mas a operação reforçou a base de capital, “por forma a potenciar a sua vantagem competitiva na recuperação da economia potuguesa e o crescimento nos mercados internacionais onde está presente” e também foi útil para “fazer face à nova regulação do setor bancário (CRD IV) e aos testes de `stress` do Banco Central Europeu”.
O problema foi que Amílcar Morais Pires, administrador do BES há 10 anos, era arguido no processo denunciado ao Departamento de Investigação e Ação Penal pela CMVM-Comissão do Mercados de Valores Mobiliários, relativa à transação de ações da EDP Renováveis por parte do BES e da seguradora BES Vida feitas na altura do lançamento em bolsa de ações daquela empresa energética.

Em 5 de julho de 2014, o ESFG-Espírito Santo Financial Group (que detém 25% do capital social do BES) anunciou que iria propor Vitor Bento para presidente executivo do BES, substituindo no cargo Ricardo Salgado, e João Moreira Rato para administrador Financeiro substituindo Amílcar Pires, pessoas que teriam de ser reconhecidas para tais cargos na Assembleia Geral que teria lugar no dia 31 daquele mês.
O mesmo comunicado do ESFG enviado à CMVM refere que iria propor Paulo Mota Pinto para o cargo de presidente do Conselho de Administração, acrescentando: “Com estas nomeações dá-se resposta célere à reorganização da Administração do BES sendo nossa convicção de que o BES ficará dotado de uma liderença independente que assegura uma transição que garanta aos accionistas e demais ´stakeholders´ a confiança na instituição BES”.

A prevista reestruturação indicava que o BES seguiria em frente. Parecia claro que o problema do BES estava nas pessoas. Uma vez substituídas, colocaria o BES na normalidade. O Banco de Portugal veio a público afirmar que o BES se encontrava numa situação de solvabilidade sólida e que “estava a acompanhar de perto a situação no banco (…) tendo sido significativamente reforçada com o recente aumento de capital”.

Os acontecimentos precipiram-se, levando à suspensão da trasação em bolsa das ações do BES no dia 10 de julho, tendo sido atingido todo o Grupo Espírito Santo, face à auditoria que detetou uma dívida de 1,2 mil milhões de euros nas contas de 2012 e que a holding tinha capitais próprios negativos de 2,5 mil milhões de euros. Apesar do anunciado panorama negro do Grupo, no dia 10 de julho o Banco de Portugal voltou a afirmar que o BES estava sólido: “O Banco de Portugal reafirma a informação já prestada em comunicado a 3 de julho, tendo vindo a adotar um conjunto de ações de supervisão, traduzidas em determinações específicas dirigidas à ESFG-Espírito Santo Financial Group e ao BES, para evitar riscos de contágio ao banco resultantes do ramo não- financeiro do GES”.
José Maria Ricciardi, presidente do BESI-Banco Espírito Santo de Investimento, afirmou em carta dirigida aos seus funcionários: “Há atualmente uma separação clara entre os negócios do BES e os seus acionistas” e que “sobre os pagamentos em falta são referentes a empresas da família ou por ela controladas”.

(continua)

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