Da confiança
à crise dos Bancos (34)
O ano de 2014 marca
uma dramática viragem na tradicional gestão da Família Espírito Santo no BESCL,
através do “insubstituível” Ricardo Salgado, caído em desgraça perante o
Regulador, chamado Banco de Portugal. Para substituição daquele esteve previsto
Amílcar Morais Pires – indicado pela Família Espírito Santo - mas acabando por recair a função em Vítor
Bento.
Amílcar Morais
Pires era administrador do BES e foi o dinamizador da operação do aumento de
capital em 1.010 milhões de euros, operação essa que revelou a existência de
problemas no seio do Grupo Espírito Santo. Mas a operação reforçou a base de
capital, “por forma a potenciar a sua vantagem competitiva na recuperação da
economia potuguesa e o crescimento nos mercados internacionais onde está
presente” e também foi útil para “fazer face à nova regulação do setor bancário
(CRD IV) e aos testes de `stress` do Banco Central Europeu”.
O problema foi que
Amílcar Morais Pires, administrador do BES há 10 anos, era arguido no processo
denunciado ao Departamento de Investigação e Ação Penal pela CMVM-Comissão do
Mercados de Valores Mobiliários, relativa à transação de ações da EDP
Renováveis por parte do BES e da seguradora BES Vida feitas na altura do
lançamento em bolsa de ações daquela empresa energética.
Em 5 de julho de
2014, o ESFG-Espírito Santo Financial Group (que detém 25% do capital social do
BES) anunciou que iria propor Vitor Bento para presidente executivo do BES,
substituindo no cargo Ricardo Salgado, e João Moreira Rato para administrador
Financeiro substituindo Amílcar Pires, pessoas que teriam de ser reconhecidas
para tais cargos na Assembleia Geral que teria lugar no dia 31 daquele mês.
O mesmo comunicado
do ESFG enviado à CMVM refere que iria propor Paulo Mota Pinto para o cargo de
presidente do Conselho de Administração, acrescentando: “Com estas nomeações
dá-se resposta célere à reorganização da Administração do BES sendo nossa
convicção de que o BES ficará dotado de uma liderença independente que assegura
uma transição que garanta aos accionistas e demais ´stakeholders´ a confiança
na instituição BES”.
A prevista
reestruturação indicava que o BES seguiria em frente. Parecia claro que o
problema do BES estava nas pessoas. Uma vez substituídas, colocaria o BES na
normalidade. O Banco de Portugal veio a público afirmar que o BES se encontrava
numa situação de solvabilidade sólida e que “estava a acompanhar de perto a
situação no banco (…) tendo sido significativamente reforçada com o recente
aumento de capital”.
Os acontecimentos
precipiram-se, levando à suspensão da trasação em bolsa das ações do BES no dia
10 de julho, tendo sido atingido todo o Grupo Espírito Santo, face à auditoria
que detetou uma dívida de 1,2 mil milhões de euros nas contas de 2012 e que a
holding tinha capitais próprios negativos de 2,5 mil milhões de euros. Apesar
do anunciado panorama negro do Grupo, no dia 10 de julho o Banco de Portugal
voltou a afirmar que o BES estava sólido: “O Banco de Portugal reafirma a
informação já prestada em comunicado a 3 de julho, tendo vindo a adotar um
conjunto de ações de supervisão, traduzidas em determinações específicas
dirigidas à ESFG-Espírito Santo Financial Group e ao BES, para evitar riscos de
contágio ao banco resultantes do ramo não- financeiro do GES”.
José Maria
Ricciardi, presidente do BESI-Banco Espírito Santo de Investimento, afirmou em
carta dirigida aos seus funcionários: “Há atualmente uma separação clara entre
os negócios do BES e os seus acionistas” e que “sobre os pagamentos em falta
são referentes a empresas da família ou por ela controladas”.
(continua)
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