Da confiança
à crise dos Bancos (87)
Do Banco Português do Atlântico (31/12/1942)
ao Millennium BCP:
Para o BCP, o ano de 2008 não foi mais pacífico que o
anterior: os lucros caíram 67% no primeiro semestre para 101,4 milhões de
euros, com o alegado motivo da “má conjuntura económica, em particular pela
forte queda da participação de 10% que o banco tem no BPI”. A outro nível estiveram
as investigações no BCP, que se iniciaram em outubro de 2007 com a notícia de
que “um dos filhos de Jardim Gonçalves viu uma dívida de cerca de €12,5 milhões
ser considerada incobrável”; também grave estiveram as supeitas de manipulação
do mercado, no final de 2007. Situações que resultaram na investigação a que
foram submetidos os anteriores administradores. Mas foi positivo o crescimento
dos recursos totais de clientes (10%), com o crescimento de 13% do crédito
concedido. O presidente do banco, Santos Ferreira, referiu que “chegou a hora
de executar, depois de ter estado os primeiros seis meses a resolver assuntos
pendentes”.
Os casos duvidosos no BCP foram o álibi para a constituição de
uma comissão de inquérito na Assembleia da República, tendo o Governador do
Banco de Portugal, Victor Constâncio, sido ouvido, em 10 de julho de 2008,
tendo afirmado (v. Semanário Económico, 11/7/2008) que “a conclusão do processo
sobre as 17 offshore não divulgadas pelo BCP deverá resultar em coimas e mesmo
inibições de funções para alguns gestores. Os processos deverão estar
concluídos até ao final deste mês (julho 2008): Deduzido o processo de
acusação, entramos na fase do contraditório em que as entidades colectivas e
individuais visadas têm 15 dias para contestar, responder e apresentar
testemunhas (…) propôs ao Governo um aumento substancial das coimas a aplicar
pelo BdP em processos de contra-ordenação. E para que as sanções aplicadas pelo
BdP possam ser divulgadas publicamente antes de concluído um eventual recurso
da decisão para os tribunais. Em 2002 foram detectadas 22 offshore ligadas a
accionistas e clientes do BCP, mas que, na altura, o BdP considerou não haver
qualquer ilicitude, uma vez que os activos entregues por estes veículos cobriam
os créditos que lhes haviam sido concedidos pelo banco. Estes créditos só
causaram problemas quando as acções começaram a desvalorizar e que, nessa
altura, o BdP actuou em conformidade. Posteriormente, já em 2007, apareceram
mais 17 offshore e são as operações realizadas entre o BCP e estas que estão
agora a ser alvo da análise, o que deverá culminar com a inibição de alguns
gestores exercerem funções bancárias. Nunca foi solicitada uma auditoria
externa ou especial às contas do BCP. As únicas novidades com que o BdP foi
presenteado prendem-se com as denúncias internas sobre o crédito concedido a
familiares de administradores e as 17 offshore que não foram declaradas”.
O Presidente da CMVM, Carlos Tavares, referio “Apenas estar
seguro de que há indícios de crime de manipulação de mercado no BCP” e disse na
Comissão de Inquérito que foi difícil reconstruir, mesmo depois de termos
acesso às offshore (toda a engenharia financeira) porque várias sociedades se
foram transfigurando para ocultar que o centro de comando era o próprio BCP.
Quer a utilização das offshore, quer a venda de acções a crédito aos pequenos
accionistas, fazem parte da mesma estratégia, da mesma lógica. A CMVM vai
aplicar uma contra-ordenação muito grave contra o BCP (devido a intermediação
agressiva na venda de acções a clientes, com crédito do banco). Até ao fim de
Setembro estarão prontas para aplicar as contra-ordenações por prestação de
informação falsa à CMVM (em 2002).
(continua)