Da confiança
à crise dos Bancos (102)
BPP – Banco Privado
Português, da criação à sua liquidação:
A saída de João Rendeiro do BPP no dia 28 de novembro de 2008
constituiu um facto revelador do estado caótico em que se encontrava o banco.
Pela simples razão de ter sido o principal impulsionador da fundação daquela
instituição financeira 12 anos antes.
Naquela
altura, João Rendeiro declarou ao «Semanário Económico» de 29 de novembro:
“Decidi
pela minha reúncia no dia em que lancei o meu livro, na passada segunda-feira.
Fiz o que tinha a fazer – a renúncia com efeitos imediatos – para garantir que
há condições para viabilizar o BPP e salvaguardar as poupanças e depósitos dos
seus milhares de clientes. Estou sereno e tranquilo, não foi uma decisão de
hoje, foi muito ponderada, por isso mesmo não tenho nenhum problema de
consciência. Passei o dia no banco a preparar a minha saída e agora vou seguir
a minha vida, outros projectos surgirão. Estou convicto que o plano que ontem
foi aprovado pelos accionistas - a marcação de uma assembleia geral e um
aumento de capital do BPP – são duas decisões fundamentais para o banco e que
mostram a confiança que os clientes podem ter na equipa de gestão executiva,
liderada por Paulo Guichard”.
Uma das
primeiras frases do livro de João rendeiro, «Testemunho de um Banqueiro» é
“Lutei toda a minha vida por me manter independente, senhor do meu destino”.
Mais, “Não tenho espírito para me reformar. Um dia que deixe de ser presidente
do Banco Privado, certamente me dedicarei a um projecto de pequena dimensão
centrado na gestão de activos”. Em 13 de dezembro daquele ano estava garantida
pelo Banco de Portugal e pelo Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a
viabilização do BPP, mas faltava separar as atividades entre o banco e a
Privado Holding.
O ativo
mais importante do grupo do Banco Privado eram os «veículos» esseciais de
investimento, como é o exemplo da Kendall que detinha participações de 5% na
Brisa e 5% na OHL Brasil. Mas a Privado Holding detinha ainda fundos de fundos,
o negócio imobiliário, a Ellipse Foundation – que abrigava uma avaliosa coleção
de arte – e o Banco Privado Português, do qual possui 100% do capital. Mas a
Privado Holding tinha outros “veículos”, tais como: Liminorke, Privado
Financeiras, Kendall II e Global Private Equity Selection.
No início
de janeiro de 2009, a administração do BPP, liderada por Fernando Adão da
Fonseca, estudou a operação de montagem de financiamento que permitisse pagar,
o mais rapidamente possível, aos clientes que eram titulares de produtos de
capital garantido que passava por formas de financiamento que permitissem
liquidar os passivos mais cedo, eventualmente de uma forma faseada, contra os
recebimentos dos ativos mais tarde. Eram «Riscos de Investimento»: Os contratos
assinados pelos clientes do BPP mencionam as consequências dos diferentes
riscos, sejam de mercado, de crédito, de taxa de juro, cambial, de liquidez e
de venda a descoberto. No caso da liquidez, por exemplo, referem que “alguns
dos activos incluídos em carteira poderão ter um nível de liquidez em mercado
relevantemente reduzido, o que poderá acarretar maiores custos de trancção ou
desvalorização, em caso de venda antes da maturidade”. «Capital garantido»: Os
contratos também continham uma cláusula de garantia de 100% do capital “na
maturidade”. Garantem, igualmente, um “retorno objectivo” – com percentagem
fixada caso a caso - sobre o capital investido, no final do prazo estabelecido,
bem como um “retorno mínimo”, previamente estabelecido.
(continua)
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