Da confiança
à crise dos Bancos (103)
BPP – Banco Privado
Português, da criação à sua liquidação:
No dia 27 de janeiro de 2009, as instalações do BPP em Lisboa
estiveram a ser alvo de buscas pelo Departamento de Investigação e Accção Penal
de Lisboa (DIAP), com o fim de “avaliar o que o banco fez e não deveria ter
feito”. O BPP emitiu um comunicado do seguinte teor: “A administração do Banco
Privado Português comunica que ontem, pelas 9:30, apresentou-se na sede do
Banco uma equipa de investigação dirigida por um juíz de Indtrução, munida de
um mandado de buscas e apreensão de documentos, no âmbito de um processo a
correr no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa”. Também refere que “prestou
e continuará a prestar às autoridades, como é sua obrigação, toda a colaboração
que lhe for solicitada” (DN, 28/01/2009).
Estava em causa um possível ato de “falsificação da
contabilidade”; venda à revelia da CMVM – Comissão do Mercado de Valores
Bobiliários de produtos de «retorno garantido», tendo a anomalia sido
descoberta em novembro de 2008, no âmbito do exercício de supervisão.
“A subscrição de produtos de retorno absoluto – ou chamados
depósitos na opinião dos clientes – sem o visto prévio da CMVM estivera a ser
investigada” por ordem deste regulador. Em discussão também esteve a
constituição pelo BPP do mega-fundo para agregar as aplicações dos clientes e
gerir os seus ativos. Mas a CMVM acabou por dar parecer negativo à constituição
do fundo
“Tudo começou por um esquema de offshores e alegadas práticas
bancárias menos escrutinadas que se encaixavam no perfil do shadow banking –
sistemas financeiros complexos que conseguiram escapar à supervisão e à
regulação da banca convencional”. Muitos destes instrumentos: produtos
estruturados (hedge funds) tinham sido negociados a partir de 2001 e que
estiveram ligados à crise financeira de 2008.
Repare-se nos valores que demonstraram a dimensão do buraco
financeiro do BPP: o valor das «perdas dos acionistas» atingiram 150 milhões de
euros; a desvalorização das aplicações em produtos de «retorno absoluto» foram
512 milhões de euros; o valor total das aplicações em produtos de «retorno
absoluto», realizadas por mais de 3 mil clientes, chegaram a 1 270 nilhões
de euros; o número de clientes que
subscreveram produtos de «retorno
garantido», totalizaram 3 000; os «prezuísos» no final de 2008 totalizaram
800 milhões; a importância que tinha sido injetada por um consório bancário
totalizou 450 milhões de euros; o «montante» que a administração queria que o
estado investisse para recuperar o BPP, era de 150 milhões.
De acordo com o «Semanário Económico», de 16 de maio de 2009,
“Neste momento está um grupo de trabalho, composto por técnicos do Banco de
Portugal, Ministério das Finanças e da CMVM, a estudar alternativas ao plano de
recuperação e saneamento do BPP, que foi apresentado pelo Banco de Portugal às
Finanças, na quarta-feira. O que significa que o Governo “chumbou” a versão do
plano apresentado pela administração do Banco Privado ao Banco de Portugal (…)
o Banco Privado colocou dez milhões de euros em obrigações, junto dos seus
clientes, em Agosto do ano passado. Uma operação que só agora foi registada no
portal da Justiça mas que, de acordo com a administração da Instituição, foi
perfeitamente legal (…) o parecer do Banco de Portugal ao plano de recuperação
do BPP defendia a manutenção do plano, embora com alterações que teriam de ser
estudadas para tornar viável a recapitalização do banco (…) o Governo tem de
encontrar uma solução que permita fechar este assunto antes das eleições para
não correr o risco deste tema originar novas histórias e novos episódios
durante as campanhas eleitorais”.
(continua)
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