Conflitos
das Autonomias da Madeira (69)
Segundo o
«Diário de Notícias», de 28/06/1926, “Há já muito tempo que não se dava nesta
cidade um atentado bombista, vindo a propósito recordar que, até hoje, não foi
descoberto o autor ou autores de nenhum dos crimes desse género praticados no
Funchal. A impunidade anima, porém, os criminosos e, assim, temos a registar
hoje mais um atentado bombista, o mais grave de todos quantos se teem dado
nesta cidade e, como todos os outros, cometido sob a protecção das trévas.
Um
estampido enorme – A cidade sobressaltada. Ás 2,45 da madrugada os habitantes
da cidade e arredores foram sobressaltados por um formidável estampido. Muita
gente saltou da cama e correu às janelas e para as ruas a indagar do que se
passava, , mas bem poucos voltaram a «vale de lençois» com o espírito tranquilo
e a curiosidade satisfeita. Só aqueles que residem para os lados da Penha de
França, por ficarem mais próximos do local da explosão, conseguiram inteirar-se
do sucedido. Tratava-se da explosão duma bomba, atirada para o terreiro da
residência do importante banqueiro e industrial sr. Henrique Figueira da Silva,
na Quita da Penha, à Rua da Imperatriz. A bomba foi atirada duma entrada
particular que existe paredes-meias com aquela Quinta e causou importantes
prejuízos, tais como fendas na parede do lado sul da casa, no tecto da sala de
visitas e em vários pontos das paredes. A janela do rez-do-chão, mais próxima
do local onde a bomba rebentou, ficou destruída e das onze janelas que o
edifício tem para o sul não ficou sã meia dúzia de vidros, vendo-se os
estilhaços espalhados pelos quartos e feitos em pequenos pedaços. Parte dos
vidros das janelas do lado oeste também ficou em estilhaços, assim como os
cristais existentes na sala, tais como uma redoma dum relógio e vários outros
objectos de decoração. Parte da galeria de madeira existente em frente do
edifício também foi destruída. No ponto do solo onde a bomba rebentou vê-se uma
perfuração com cêrca de 20 centimetros de profundidade e 25 de diâmetro.
Segundo se
verificou, a bomba foi de dinamite, sem envolucro resistente, pois que não se
notam quaisquer vestígios de estilhaços, constatando-se, pelo contrario, que os
estragos foram causados pela deslocação de ar e vibração produzida pelo
deflagrar da dinamite. Os prédios das proximidades também sofreram estragos
assim como alguns para os lados da Estrada Monumental, a alguns quilómetros de
distancia. Pouco antes da explosão os cães da Quinta da Penha tinham começado a
ladrar furiosamente, a ponto de não deixarem os seus donos dormir. O sr. Henrique
Figueira da Silva chegou mesmo a sentir, por entre o latir dos animais, um
ruido extranho, que talvez tivesse sido o da bomba ao bater no chão. Momentos
depois dava-se o enorme estampido, que causou o maior alarme na casa do sr.
Henrique Figueira. Este sr. levantou-se logo e foi verificar os estragos da
explosão, após o que telefonou para o comissariado de policia, participando o
sucedido. O agente, porém, que recebeu a participação limitou-se a registá-la
na folha das ocorrencias policiais, em vez de comunicar o facto aos seus
superiores, de forma que só ás 8 da manhã, o sr. comissario de policia foi
informado do caso. (…)”.
A Casa
Bancária de Henrique Figueira da Silva, ou Banco Figueira, surgiu em 1898, com
instalações na R. dos Murças. Dominava os financiamentos ao comércio e à
indústria e a sua ação nos sectores das moagens e dos engenhos de açúcar e de
aguardente com a Fábrica de S. Filipe. (continua)
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