Conflitos
das Autonomias da Madeira (70)
A Casa Bancária de Henrique Figueira da Silva, ou Banco Figueira, surgiu em 1898 com instalações na R. dos Murças. Este Banco dominava os financiamentos ao comércio e à indústria da Ilha, sendo de destacar a sua ação nos setores das moagens e dos engenhos de açúcar e de aguardente com a Fábrica de S. Filipe. Face ao seu domínio financeiro, resta saber se a bomba que explodiu na residência do banqueiro no dia 27 de junho de 1926 teve a ver com a atividade bancária, uma vez que a falência daquele Banco apenas ocorreu por volta de 1930, tendo muitos madeirenses perdido o dinheiro depositado.
Na história da Banca madeirense, consta que “em 1875 começou a funcionar o Banco
de Portugal no Funchal, sob a gerência do negociante João José Rodrigues
Leitão. A agência do Banco de Portugal, no Funchal, enfrentou dificuldades com
a falência do seu responsável, o comerciante João José Rodrigues Leitão em
1878, recebendo os credores apenas 50 % dos créditos. Em 1873, a comissão
administrativa da Santa Casa da Misericórdia do Funchal mantinha empenho na
criação de um banco de crédito agrícola, de forma a oficializar uma situação
que já existia nesta instituição através da Caixa dos Órfãos, que emprestava
dinheiro ao juro de 5 %.
Entretanto, surgiu o Banco Comercial do
Funchal no dia 1 de junho de 1874, com estatutos de 25 de abril do mesmo ano a
que estavam associados António Caetano Aragão, Carlos de Bianchi, João de
Salles Caldeira, José Paulo dos Santos, Manuel Figueira de Chaves, Manuel
Inísio da Costa Lira, Severiano Alberto de Freitas Ferraz, e William Hinton. Porém, não foi fácil a atividade desta instituição,
acabando por falir em 1887.
Em
1879, João da Câmara Leme defendeu
a ideia de um banco de crédito agrícola como solução para os problemas que
envolviam a agricultura, atuando com mecanismo financeiro da sua reabilitação. Em
1922, Fernando Augusto da Silva retratava assim o panorama bancário na região:
“As casas bancárias estabelecidas agora no Funchal são as de Blandy Brothers
& C.ª, Henrique Figueira
da Silva, Reid
Castro & C.ª, Rocha Machado & C.ª, e Sardinha & C.ª. Estas casas
que realizam as operações bancarias exigidas pelo comércio do Funchal, e ainda
outras, estão todas em estado bastante próspero, devido à sua excelente
administração e à confiança de que gozam no mercado, como para os elevados
juros, que eram de 12 a 15 %, podendo mesmo chegar aos 24 % ao ano” (SILVA e
MENESES, 1978, I, 116-117).
“Normalmente,
aponta-se a situação ocorrida em 20 de novembro de 1930 como um efeito
retardatário da quinta-feira negra de Nova Iorque, de 24 de outubro de 1929.
Mas, ao nível da sociedade madeirense, a maioria dos testemunhos apontam para
um turbilhão de boatos lançados anonimamente na cidade que apontavam a falta de
liquidez desta casa e que levaram a uma corrida desenfreada dos populares ao
levantamento das suas economias. Os boatos eram anónimos, mas facilmente
identificáveis, sabendo-se do interesse de algumas famílias estrangeiras, com
interesses na atividade bancária e em sectores industriais financiados por esta
casa. Por outro lado, se se tiver em conta que os dois principais beneficiários
da venda em hasta pública do património do banco foram as famílias Blandy e
Hinton, não se estará longe de fazer sair do anonimato os principais
orquestradores da situação que levou à falência do Banco Figueira e do Banco
Sardinha e que teve um efeito negativo na atividade bancária da Ilha, nos anos
imediatos, tendo a maioria da população perdido as suas economias” (Alberto
Vieira e outros).
(continua)
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