Conflitos
das Autonomias da Madeira (73)
Neste cenáculo de jovens
intelectuais, formaram-se os ardorosos prosélitos que, irradiando para todo o
país, haviam de ser o Estado Maior de Portugal do Resgate. O prestígio do Dr.
António de Oliveira Salazar, nesse tempo, esplendia sobretudo nas Academias e
Congressos Científicos e ainda nas superiores esferas do movimento católico
português, que então atravessava situação difícil, sacudido pelos embates de
demagogia, intranquilizadora da vida nacional, enmarasmando-a, degradando-a e,
não raro, enodoando-a de sangue fraticida. Esta grave atmosfera política
metropolitana, tinha reflexos na Madeira. Não obstante os dois Lentes conimbricenses
tiveram uma recepção carinhosa e homenageadora (…) a primeira conferência do
Dr. Oliveira Salazar “subordinada ao tema «Laicismo e liberdades modernas»,
realizou-se no dia 5 de Abril, no salão do Museu Diocesano anexo ao Paço
Episcopal – que se achava decorado de
colchas vermelhas – a cor simbólica da Faculdade do eminente Catedrático.
Presidio o venerando Prelado, Senhor D. António Manuel Pereira Ribeiro, ladeado
pelo Comandante Militar, Coronel Aires de Castro, e Vigário Geral da Diocese,
Cónego Francisco Manuel Camacho (…)
Coube ao Dr. Juvenal de Araújo
que, num magistral e empolgante discurso, traçou o perfil intelectual e moral
do grande mestre. Prof. Oliveira Salazar, depois de agradecer «as palavras
amigas» que tinha ouvido, declarou que “a sua palestra seria fria e
desapaixonada»; e, modestamente, pediu ao auditório que «se cobrisse com os
agazalhos de boa paciência». Seguidamente entrou na matéria do seu trabalho,
tomando por motivo os sucessos perturbadores que então se desenrolavam em
França. Se bem nos recordamos, a linha do seu pensamento doutrinário tinha
raízes nas generosas e nobres encíclicas de Leão XIII – considerando que no
progresso humano «nada de grande se pode fazer sem fé», como mais tarde
acentuou quando já orientava galvanicamente os destinos da Nação.
Nesta singela efeméride (…) não
cabe o raconto dessa extraordinária e inolvidável lição – que a assistência
coroou com longos aplausos. No dia 7 o Prof, Dr, Mário de Figueiredo
pronunciou, com o seu habitual fulgor a sua conferência intitulada «O
Nacionalismo e Igreja»; e finalmente no dia 13, o Prof. Dr. Oliveira Salazar
fechou o ciclo de trabalhos, dissertando sobre «O Bolchevismo e a Congregação»,
alcançando os dois lentes um êxito total (…).
O povo português não sonhava ainda
com a revolução do «28 de Maio». Os madeirenses estavam longe de supor a
influência enorme que a visita deste homem austero, sábio, íntegro, portador de
transcendente talento, havia de ter no progresso da Nação (…)”. (Elmano Vieira,
Almanaque da Madeira – Anuário – 1956-1957, pags.421 a 423, ed. Padre Carlos
Jorge de Faria e Castro).
(continua)
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