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sexta-feira, 11 de março de 2022

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (73)

Salazar na Madeira – “Chegou aqui a 5 de Abril de 1925 (…) com ele vinha também o seu colega Prof. Mário de Figueiredo. Condutores de um alto idealismo, trazia-os a missão espiritual de realizar conferências de caracter católico-social, a convite da Juventude Católica do Funchal presidida pelo espírito entusiasta e brilhante do  Dr. Juvenal de Araújo -  que na Lusa Atenas convivera na intimidade destes luminares da Ciência do Direito e com eles participara nos trabalhos doutrinários do Centro Académico de Democracia Cristã, cujo principal orientador era o padre Dr. Manuel Gonçalves Cerejeira, mais tarde chamado pelo supremo poder da Igreja à púrpura cardinalícia e à chefia do Patriarcado de Lisboa.

Neste cenáculo de jovens intelectuais, formaram-se os ardorosos prosélitos que, irradiando para todo o país, haviam de ser o Estado Maior de Portugal do Resgate. O prestígio do Dr. António de Oliveira Salazar, nesse tempo, esplendia sobretudo nas Academias e Congressos Científicos e ainda nas superiores esferas do movimento católico português, que então atravessava situação difícil, sacudido pelos embates de demagogia, intranquilizadora da vida nacional, enmarasmando-a, degradando-a e, não raro, enodoando-a de sangue fraticida. Esta grave atmosfera política metropolitana, tinha reflexos na Madeira. Não obstante os dois Lentes conimbricenses tiveram uma recepção carinhosa e homenageadora (…) a primeira conferência do Dr. Oliveira Salazar “subordinada ao tema «Laicismo e liberdades modernas», realizou-se no dia 5 de Abril, no salão do Museu Diocesano anexo ao Paço Episcopal – que se achava  decorado de colchas vermelhas – a cor simbólica da Faculdade do eminente Catedrático. Presidio o venerando Prelado, Senhor D. António Manuel Pereira Ribeiro, ladeado pelo Comandante Militar, Coronel Aires de Castro, e Vigário Geral da Diocese, Cónego Francisco Manuel Camacho (…)

Coube ao Dr. Juvenal de Araújo que, num magistral e empolgante discurso, traçou o perfil intelectual e moral do grande mestre. Prof. Oliveira Salazar, depois de agradecer «as palavras amigas» que tinha ouvido, declarou que “a sua palestra seria fria e desapaixonada»; e, modestamente, pediu ao auditório que «se cobrisse com os agazalhos de boa paciência». Seguidamente entrou na matéria do seu trabalho, tomando por motivo os sucessos perturbadores que então se desenrolavam em França. Se bem nos recordamos, a linha do seu pensamento doutrinário tinha raízes nas generosas e nobres encíclicas de Leão XIII – considerando que no progresso humano «nada de grande se pode fazer sem fé», como mais tarde acentuou quando já orientava galvanicamente os destinos da Nação.

Nesta singela efeméride (…) não cabe o raconto dessa extraordinária e inolvidável lição – que a assistência coroou com longos aplausos. No dia 7 o Prof, Dr, Mário de Figueiredo pronunciou, com o seu habitual fulgor a sua conferência intitulada «O Nacionalismo e Igreja»; e finalmente no dia 13, o Prof. Dr. Oliveira Salazar fechou o ciclo de trabalhos, dissertando sobre «O Bolchevismo e a Congregação», alcançando os dois lentes um êxito total (…).

O povo português não sonhava ainda com a revolução do «28 de Maio». Os madeirenses estavam longe de supor a influência enorme que a visita deste homem austero, sábio, íntegro, portador de transcendente talento, havia de ter no progresso da Nação (…)”. (Elmano Vieira, Almanaque da Madeira – Anuário – 1956-1957, pags.421 a 423, ed. Padre Carlos Jorge de Faria e Castro).

(continua)

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