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sábado, 16 de abril de 2022

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (79)

«Revolta da Madeira de 4 de Abril de 1931»: Na sequência da Sindicância pelo oficial Sindicante, coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro, consta que “A primeira causa foi, como disse, o ódio enormíssimo, que a guarnição militar votava ao Sr. Coronel José Maria de Freitas, comandante do Regimento e Governador Civil e Militar. Nunca encontrei, na minha longa carreira de 44 anos de serviço militar, um chefe tão odiado pelos seus subordinados, como o Senhor Coronel Freitas, como V. Ex.ª analisará pelas declarações escritas e assinadas dos vários oficiais. O Sr. Coronel Freitas, com uma insensatez e impolítica invulgares, conseguiu inutilizar um numeroso grupo de oficiais, novos, com o curso de arma, dedicados à situação, que ajudavam da fazê-la, que a defendiam como militares, e a serviram em lugares civis, como: nas comissões administrativas, nas administrações de concelhos e Juntas Gerais, onde serviram com inteligência, e alguns, com muita dedicação e competência.

Pouco a pouco, com questões, por vezes fúteis e pueris, e geralmente devido a intrigas de terra pequena, desgostava, desconsiderava, e até por vezes, vexava oficiais de valor, e dedicados à situação, terminando por expulsá-los das corporações administrativas, onde todos serviram com honestidade e honradez indiscutíveis, e quase todos, com competência e dedicação.

E, por quem foram substituídos estes oficiais? Por politiqueiros e intrigantes de terra pequena, permita-se-me o plebismo da frase, alguns sem se saber donde vinham, nem qual a sua finalidade, abundando medíocres e desconhecidos arrivistas e exploradores políticos.

O coronel Freitas é um fraco de vontade, revogando hoje a ordem ou resolução tomada ontem, e por vezes, caindo no ridículo, com as suas ameaças de parte de doente, que retirava no dia seguinte; de abandonar os lugares, a que cada vez se agarrava mais; e até com uma ridícula tentativa de suicídio, com uma pistola, que não continha bala alguma.

Não consegui interrogar este oficial, porque me disse estar completamente desmemoriado, e não se recordar e facto algum. Fisicamente pareceu-me realmente incapaz. Da sua competência como militar, e para as funções de comando, os factos e depoimentos dos oficiais, e a Madeira empeso, demonstram-no a evidência, e sobejamente (…).

Acção do Coronel Freitas como Governador Civil da Madeira: Na célebre questão das farinhas, o Coronel Freitas deu esta pública manifestação de incompetência, e talvez seja favor classificar assim os dois factos, que se seguem:

O Coronel Freitas aquando da questão das farinhas, discursando ao povo disse: «Não tenho medo e acompanho o povo». «Sei o que hei-de fazer e o povo deve cumprir também o seu dever». O povo revoltou-se; o coronel José Maria de Freitas, comandante militar e governador civil, mandou armar a polícia, fazer fogo, havendo por isso mortos e feridos! Mandou publicar um placard (…) nestes termos: -Diário de Notícias – (…) Nota Oficiosa, Comunico ao Povo da Madeira, que tendo solicitado já, por várias vezes, a suspensão do recente decreto sobre o regime cerealífero.

Aguardo resposta até amanhã 6 do corrente.

Caso o Governo não responda às minhas solicitações, não cumpro o decreto.

Novamente peço ao comércio que reabra as portas e ao público que retome as suas ocupações.

O Governador Civil- José Maria de Freitas”

(Sindicância pelo oficial Sindicante coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro – Revolta da Madeira 1931, Maria Elisa Brazão e Manuela Abreu, 2ª ed.2008).

(continua)

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