Conflitos das Autonomias da Madeira (79)
«Revolta da Madeira de 4 de Abril de 1931»: Na
sequência da Sindicância pelo oficial Sindicante, coronel Gonçalo Pereira
Pimenta de Castro, consta que “A primeira causa foi, como disse, o ódio
enormíssimo, que a guarnição militar votava ao Sr. Coronel José Maria de
Freitas, comandante do Regimento e Governador Civil e Militar. Nunca encontrei,
na minha longa carreira de 44 anos de serviço militar, um chefe tão odiado pelos
seus subordinados, como o Senhor Coronel Freitas, como V. Ex.ª analisará pelas
declarações escritas e assinadas dos vários oficiais. O Sr. Coronel Freitas,
com uma insensatez e impolítica invulgares, conseguiu inutilizar um numeroso
grupo de oficiais, novos, com o curso de arma, dedicados à situação, que
ajudavam da fazê-la, que a defendiam como militares, e a serviram em lugares
civis, como: nas comissões administrativas, nas administrações de concelhos e
Juntas Gerais, onde serviram com inteligência, e alguns, com muita dedicação e
competência.
Pouco a pouco, com questões, por vezes fúteis e
pueris, e geralmente devido a intrigas de terra pequena, desgostava,
desconsiderava, e até por vezes, vexava oficiais de valor, e dedicados à
situação, terminando por expulsá-los das corporações administrativas, onde
todos serviram com honestidade e honradez indiscutíveis, e quase todos, com
competência e dedicação.
E, por quem foram substituídos estes oficiais? Por
politiqueiros e intrigantes de terra pequena, permita-se-me o plebismo da
frase, alguns sem se saber donde vinham, nem qual a sua finalidade, abundando
medíocres e desconhecidos arrivistas e exploradores políticos.
O coronel Freitas é um fraco de vontade, revogando
hoje a ordem ou resolução tomada ontem, e por vezes, caindo no ridículo, com as
suas ameaças de parte de doente, que retirava no dia seguinte; de abandonar os
lugares, a que cada vez se agarrava mais; e até com uma ridícula tentativa de
suicídio, com uma pistola, que não continha bala alguma.
Não consegui interrogar este oficial, porque me
disse estar completamente desmemoriado, e não se recordar e facto algum.
Fisicamente pareceu-me realmente incapaz. Da sua competência como militar, e
para as funções de comando, os factos e depoimentos dos oficiais, e a Madeira
empeso, demonstram-no a evidência, e sobejamente (…).
Acção do Coronel Freitas como Governador Civil da
Madeira: Na célebre questão das farinhas, o Coronel Freitas deu esta pública
manifestação de incompetência, e talvez seja favor classificar assim os dois
factos, que se seguem:
O Coronel Freitas aquando da questão das farinhas,
discursando ao povo disse: «Não tenho medo e acompanho o povo». «Sei o que
hei-de fazer e o povo deve cumprir também o seu dever». O povo revoltou-se; o
coronel José Maria de Freitas, comandante militar e governador civil, mandou
armar a polícia, fazer fogo, havendo por isso mortos e feridos! Mandou publicar
um placard (…) nestes termos: -Diário de Notícias – (…) Nota Oficiosa, Comunico
ao Povo da Madeira, que tendo solicitado já, por várias vezes, a suspensão do
recente decreto sobre o regime cerealífero.
Aguardo resposta até amanhã 6 do corrente.
Caso o Governo não responda às minhas
solicitações, não cumpro o decreto.
Novamente peço ao comércio que reabra as portas e
ao público que retome as suas ocupações.
O Governador Civil- José Maria de Freitas”
(Sindicância
pelo oficial Sindicante coronel Gonçalo Pereira Pimenta de Castro – Revolta da
Madeira 1931, Maria Elisa Brazão e Manuela Abreu, 2ª ed.2008).
(continua)
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