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sexta-feira, 3 de junho de 2022

 

Conflitos da Autonomia -Carta do Presidente da Junta Geral a Salazar - B

 

“Foi por último a desgraçada acção do delegado Especial enviado pelo Governo, que tendo chegado à Madeira numa ocasião em que era facílimo congraçar tudo, procedeu de maneira tão pouco inteligente que criou o ambiente necessário para a revolução que se deu depois (…) a desgraçada liquidação do Banco Henrique Figueira levou a miséria a milhares de famílias! As forças económicas há já alguns anos andam a mendigar a resolução de vários assuntos, mas até agora quase nada foi resolvido! Estão sem solução as questões de vinhos, bordados, turismo, etc.! Veio à Madeira o Sr. Ministro do Comércio. Num momento de irreflectido entusiasmo proferiu a já célebre frase: «Aleluia, chegou a hora da Madeira ser ouvida» frase duma infelicidade enorme pois deu oficialmente razão aos que dizem que a Madeira tem sido esquecida pelo Governo Central. O pior é que já vai quase um ano sobre a visita de Sua Exª. E apesar do «Aleluia», tudo tem continuado na mesma (…) esta terrível crise que promete atingir todos. O que tem demorado, nos últimos anos, a derrocada final de tudo isto, tem sido o turismo e a Junta Geral.

As pessoas que estão mais ligadas ao turismo sentem que, se não forem tomadas urgentes previdências, este em pouco tempo desaparecerá da Madeira. A Junta Geral fez muito com as receitas que lhe foram facultadas e com o empréstimo de 15 000 contos mas, como V. Exª. terá ocasião de verificar pelo nosso relatório, a manter-se a actual situação, de futuro pouco poderá fazer para remediar a crise actual, e nada que esteja em relação com as enormes necessidades urgentes da Madeira.

Peço pelos meus filhos; peço por todos os madeirenses; peço por todos os portugueses porque o engrandecimento da Madeira será um reflexo da prosperidade de Portugal.

Sr. Dr. Salazar: Nós vivemos actualmente na Madeira sobre um vulcão. O mal estar geral é tão grande que com a maior facilidade se pode dar uma grande tragédia, sacrificando os que leal e honestamente têm servido a actual situação. Pela minha profissão privo com toda a gente, especialmente com os humildes e sei muito bem o que se passa. Qualquer informação diferente que dêem a V. Exª. não está certa. Esta é a expressão da verdade.

Reputo absolutamente necessário e urgente qualquer acto de V. Exª. em benefício da Madeira, que prove a esta gente que não continuará completamente abandonada pelo Governo Central.

É urgente a criação de mais receitas para a Junta ou a diminuição de encargos (passagem para o Estado das despesas com a polícia e instrução, mantendo-se as actuais receitas de forma que a Junta possa dar trabalho aos que têm saúde e estão na maior miséria por não terem onde trabalhar.

É urgente que sejam resolvidas satisfatoriamente as questões dos vinhos, bordados e turismo.

É urgente que se resolva  o problema da assistência.

É urgente que o Governo conceda todas as facilidades para que se inicie, num curto prazo, a construção do Liceu, do Bairro Económico, do Casino, da sucursal do Banco de Portugal e do Sanatório para Tuberculosos.

Para isto basta somente um pequeno empurrão dado por V. Exª.. Sem que isso represente grande encargo para o Estado. Pode dizer-se mesmo que é semear para ter mais tarde uma grande colheita.

A continuarem as coisas como estão em breve a Madeira seria como já referi, teatro duma tragédia, a maior das que a têm assolado em todos os tempos.

(…) Os meus respeitosos cumprimentos com as maiores desculpas pelo precioso tempo que roubei a V. Exª. (…).

João Abel de Freitas”

 

 

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