Conflitos da Autonomia -Carta do Presidente da Junta
Geral a Salazar - B
“Foi por
último a desgraçada acção do delegado Especial enviado pelo Governo, que tendo
chegado à Madeira numa ocasião em que era facílimo congraçar tudo, procedeu de
maneira tão pouco inteligente que criou o ambiente necessário para a revolução
que se deu depois (…) a desgraçada liquidação do Banco Henrique Figueira levou
a miséria a milhares de famílias! As forças económicas há já alguns anos andam
a mendigar a resolução de vários assuntos, mas até agora quase nada foi
resolvido! Estão sem solução as questões de vinhos, bordados, turismo, etc.!
Veio à Madeira o Sr. Ministro do Comércio. Num momento de irreflectido
entusiasmo proferiu a já célebre frase: «Aleluia, chegou a hora da Madeira ser
ouvida» frase duma infelicidade enorme pois deu oficialmente razão aos que
dizem que a Madeira tem sido esquecida pelo Governo Central. O pior é que já
vai quase um ano sobre a visita de Sua Exª. E apesar do «Aleluia», tudo tem
continuado na mesma (…) esta terrível crise que promete atingir todos. O que
tem demorado, nos últimos anos, a derrocada final de tudo isto, tem sido o
turismo e a Junta Geral.
As pessoas
que estão mais ligadas ao turismo sentem que, se não forem tomadas urgentes previdências,
este em pouco tempo desaparecerá da Madeira. A Junta Geral fez muito com as
receitas que lhe foram facultadas e com o empréstimo de 15 000 contos mas,
como V. Exª. terá ocasião de verificar pelo nosso relatório, a manter-se a
actual situação, de futuro pouco poderá fazer para remediar a crise actual, e
nada que esteja em relação com as enormes necessidades urgentes da Madeira.
Peço pelos
meus filhos; peço por todos os madeirenses; peço por todos os portugueses
porque o engrandecimento da Madeira será um reflexo da prosperidade de
Portugal.
Sr. Dr.
Salazar: Nós vivemos actualmente na Madeira sobre um vulcão. O mal estar geral
é tão grande que com a maior facilidade se pode dar uma grande tragédia,
sacrificando os que leal e honestamente têm servido a actual situação. Pela
minha profissão privo com toda a gente, especialmente com os humildes e sei
muito bem o que se passa. Qualquer informação diferente que dêem a V. Exª. não
está certa. Esta é a expressão da verdade.
Reputo
absolutamente necessário e urgente qualquer acto de V. Exª. em benefício da
Madeira, que prove a esta gente que não continuará completamente abandonada
pelo Governo Central.
É urgente
a criação de mais receitas para a Junta ou a diminuição de encargos (passagem
para o Estado das despesas com a polícia e instrução, mantendo-se as actuais
receitas de forma que a Junta possa dar trabalho aos que têm saúde e estão na
maior miséria por não terem onde trabalhar.
É urgente
que sejam resolvidas satisfatoriamente as questões dos vinhos, bordados e
turismo.
É urgente
que se resolva o problema da
assistência.
É urgente
que o Governo conceda todas as facilidades para que se inicie, num curto prazo,
a construção do Liceu, do Bairro Económico, do Casino, da sucursal do Banco de Portugal
e do Sanatório para Tuberculosos.
Para isto
basta somente um pequeno empurrão dado por V. Exª.. Sem que isso represente
grande encargo para o Estado. Pode dizer-se mesmo que é semear para ter mais
tarde uma grande colheita.
A
continuarem as coisas como estão em breve a Madeira seria como já referi,
teatro duma tragédia, a maior das que a têm assolado em todos os tempos.
(…) Os
meus respeitosos cumprimentos com as maiores desculpas pelo precioso tempo que
roubei a V. Exª. (…).
João Abel
de Freitas”
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