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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Alberto João escreveu ser ridículo os analfabetos poderem votar

- “Enuncia o Dr. Mário Soares o princípio da autodeterminação. Mas não explica como há-de funcionar esse princípio. Será que se pretende seguir o princípio «um homem, um voto? Creio firmemente nesse princípio quando aplicado às sociedades evoluídas da Europa, embora não aplicado indistintamente. E quando digo «não indistintamente», significa que não concordo com o voto estendido aos analfabetos ou aos menores ou aos interditos. No entanto, aplicar o princípio a uma zona onde o homem de tanga vive ao lado, ou quase, do universitário, do alto funcionário, do clérigo, do industrial, do operário especializado, do operário com instrução, acho pura e simplesmente ridículo”.
Alberto João - In «Voz da Madeira», 16/09/1970

- “Os homens ao aceitarem a necessidade da exigência da sociedade politicamente organizada, não lhe cederam toda a sua liberdade, toda a sua capacidade individual de querer, optar ou recusar”.
 – “As eleições são o grande julgamento a que os administradores da coisa pública têm de submeter-se”.
 – “Porém,  certos exageros levaram, nalguns casos, ao descrédito do significado  do voto. Ou alargou-se demasiado o seu âmbito (sistema «one mon, one vote», atribuindo-se ao analfabeto, ao menor ou ao tribal, por exemplo, idêntica capacidade de decisão à que têm direito aqueles que são capazes civicamente”.
Alberto João - In «Voz da Madeira», 05/04/1972

Estavamos em plena vigência do consulado marcelista, altura em que havia a esperança de mudanças na abertura política do regime do Estado Novo. Os portugueses queriam que fosse abolido o resquício do salazarismo caquético que vigorou desde os anos vinte do século passado, na sequência do «28 de Maio de 1926». Mário Soares defendeu a autodeterminação das Colónias portuguesas do Ultramar, varridas pela Guerra Colonial desde 4 de Fevereiro de 1961.

Nas eleições para a Assembleia Nacional, realizadas em 1969, houve uma novidade importante que foi o facto das mulheres, pela primeira vez, terem o direito de votar. Mas apenas as maiores de idade e que soubessem ler e escrever. A limitação do voto também atingia os homens analfabetos. Alberto João não só criticou, acerrimamente, Mário Soares, mas também, em 1970 e 1972, defendeu que para votar era preciso saber ler, escrever e, talvez, fazer contas - isto é, não ser analfabeto.

Na Madeira publicava-se o semanário «Voz da Madeira», em que numa permanente «TRIBUNA LIVRE» Alberto João escrevia o que entendia, mas defendendo intransigentemente a política do Estado Novo, nomeadamente em relação à política ultramarina e à proibição dos analfabetos poderem votar. Era corrente e normal que, por ideologia arreigada, o articulista defendesse as políticas totalitárias e de partido único do regime de então – a União Nacional - onde cabia o princípio de que os analfabetos não deveriam ter o direito de voto!

Com o «25 de Abril de 1974», deu-se uma reviravolta no princípio da igualdade dos cidadãos quanto ao direito de votar: analfabetos e letrados. Com a consolidação da democracia, rapidamente Alberto João esqueceu-se do voto dos analfabetos, ao longo da meia centena de eleições realizadas até agora, mantendo, no ideário e nos métodos, os princípios de partido único.

Quando, no dia 10 de Fevereiro de 1990, o Conselho Regional do PSD-M reuniu em Câmara de Lobos para apreciar os resultados das eleições autárquicas, foi óbvia a grande decisão: “O Partido Social Democrata da Madeira recusa qualquer consensualismo com a oposição, seja a que nível ou escalão for”. O delírio destas afirmações fazia crer que o PSD-M era um partido de consensos, o que nunca o foi nem é. Pelo contrário, é um partido que tem vocação de um sistema  de partido único, fazendo valer em todas as circunstâncias a sua maioria absoluta, esbarrando a fronteira do totalitarismo despótico ao bom estilo do Séc. XVIII.

 A poucas horas de mais um ato eleitoral, sem distinguir os analfabetos dos outros eleitores, votar é um dever de esperança, votando na «MUDANÇA», assim como julgo que o eleitor não se esquece de votar no PS.






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