Mudança na
«Capitania de Machico», sede da «Capitania do Funchal»
e
Porto Santo
Se estivéssemos no tempo da “divisão administrativa” do
arquipélago da Madeira em três capitanias, extintas em meados do século XVIII,
diria que as eleições autárquicas do passado dia 29 de Setembro determinaram a
radical mudança de cor política em todos os municípios da «Capitania de
Machico», na sede da «Capitania do Funchal» e no único município da «Capitania
do Porto Santo».
Foi pesada a derrota política do “governador-geral” da
Região Autónoma que, a partir do comando de operações, sediado na Quinta Vigia,
tem controlado e dominado, desde Março de 1978, tudo o que às autarquias diz
respeito, impondo aos autarcas do PSD-M uma subserviência absoluta aos seus
ditames.
Desde 1976, habituado que estava a ganhar quase tudo, perdendo, de quando em vez, a câmara de
Machico e do Porto Santo, bem como uma ou outra freguesia, desta vez o PSD-M
perdeu 7 municípios e 22 freguesias. No entanto, mantém maioria absoluta nas
câmaras municipais da zona fortificada que abrange os municípios de Câmara de
Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta, que representam 25 por cento do
total de votantes de todos os municípios.
Mas o que levou os eleitores a esta mudança poderá ser explicado tendo
em vista, pelo menos, três perspetivas. A primeira poderá ser o desejo de mudar
de políticas autárquicas, votando em pessoas que não estejam subjugadas ao
poder absoluto da Quinta Vigia. A segunda será a prova factual de que o PSD-M
já não tem mais nada para inovar e oferecer à população. A terceira,
provavelmente a mais forte, terá a ver com a desastrosa gestão financeira que
há muito tempo tem sido prática corrente na Região, que descambou numa fabulosa
dívida, na criação de uma taxa de desemprego nunca vista e na proliferação de
pobreza em todos os recantos da Madeira e Porto Santo.
Relativamente ao ato eleitoral de 2009, ano em que o PSD-M ganhou
todas as câmaras municipais, perdendo para o PS as freguesias de Água de Pena,
Achadas da Cruz e Porto Moniz; para o CDS a freguesia de São Jorge; para os JPP-Juntos Pelo Povo a freguesia de Gaula.
Nas eleições de domingo passado, das 7 câmaras perdidas pelo PSD-M,
3 foram para o PS (Machico, Porto Moniz e Porto Santo); Santana para o CDS; Santa
Cruz para os JPP-Juntos Pelo Povo,
apoiados pelo PS e CDS; São Vicente para o grupo UPSV-Unidos por São
Vicente, apoiado pelo PS e CDS; a
coligação «Mudança» ganhou a câmara do Funchal.
Nas juntas de freguesia, o PSD ganhou 32; o PS ganhou 5 (Água de
Pena, Machico, Porto da Cruz, Porto Moniz e Seixal); o CDS ganhou 4 (Fajã da
Ovelha, Ponta do Pargo, Santana e São Jorge); a coligação «Mudança», ganhou 5
das 10 freguesias do Funchal (Santa Maria Maior, Imaculado C. de Maria, São
Gonçalo, São Martinho e São Pedro), sendo as restantes 5 ganhas pelo PSD; os
JPP ganharam as 5 freguesias do concelho de Santa Cruz; o grupo UPSV-Unidos por
São Vicente ganhou as 3 freguesias do concelho de São Vicente.
A particularidade da
vitória da coligação «Mudança» na câmara do Funchal foi o facto de não ter sido
por maioria absoluta (Mudança 5 mandatos, PSD 4, CDS 1, CDU 1), o que obrigará
a acordo permanente ou pontual com o PSD, CDS ou CDU.
O Funchal foi sempre desejado pelos partidos da oposição, desde as
primeiras eleições, em 1976, em que o PSD também não obteve maioria absoluta.
Mas como, naquela época, o PSD-M ainda não tinha adquirido o bicho do abuso
reiterado de poder absoluto, alguns vereadores do PS chegaram a ter pelouros
funcionais distribuídos pelo partido vencedor.
O resultado atual
coloca a questão de saber se a coligação «Mudança», com o presidente e mais 4
vereadores, sentirá necessidade de atribuir pelouro a algum vereador da
oposição, caso queira, porventura na sequência de um acordo permante, a fim de
garantir estabilidade funcional na gestão do município.
Outras questões que
se colocarão no Funchal, Santa Cruz e São Vicente terão a ver com a inevitabilidade
dos partidos coligados no Funchal e os que apoiaram os JPP e UPSV não terem voz ativa na gestão camarária daqueles municípios ao
longo do mandato. Por uma simples razão: as listas são constituídas por
independentes e fizeram campanha baseada na independência “total” dos partidos
coligados e apoiantes, tendo por base o ideário da cidadania ativa e na ética política,
como se os partidos não tivessem capacidade de praticar aqueles desideratos
sociais. Mas esse será o risco político que os partidos correm por sua livre
vontade, se é que foi devidamente ponderada a sua opção.
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