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sábado, 7 de agosto de 2021

 

               Conflitos das Autonomias da Madeira (42)

 

A razão fundamental para desenvolver o combate a favor da autonomia teve por base o artigo intitulado «Se a Madeira quisesse» da autoria de José Bruno Carreira, publicado no jornal da ilha de São Miguel, Correio dos Açores, do dia 22 de junho de 1922. O texto lançou um forte apelo à união de açorianos e madeirenses “na busca de soluções para o alargamento da autonomia das ilhas”. A resposta a este desafio foi dada por Manuel Pestana Reis no artigo “A Madeira quer”, publicado no Diário de Notícias, do Funchal, em Setembro desse mesmo ano.

Antes, porém, Pestana Reis havia iniciado um processo de preparação da opinião pública com uma série de artigos, publicados no Correio da Madeira. Assim a 23 de Março, no artigo “Em louvor do povo e da terra” faz-se um panegírico ao povo madeirense, defendendo-se a ideia de independência da Madeira, pois aquilo que liga o povo madeirense ao continente é apenas um sentimentalismo patriótico, já que possui uma identidade própria.

No dia 19 de Agosto desse ano, no artigo “Palavras que o vento leva”, insiste na idiossincrasia do povo madeirense e clama pela necessidade de “uma larga autonomia administrativa”, tornando-se para isso necessário “desviar a Madeira das engrenagens da política portuguesa”, apagando “a fisionomia de campanários eleiçoeiros, de estreitas sucursais de S. Bento e Terreiro do Paço”, já que as reivindicações da Madeira “são sempre tidas e resolvidas a título de favor, que nos vexa e prejudica”, concluindo com um apelo a todos os madeirenses  “de sangue e de coração”. Embora revelando uma clara aversão aos partidos políticos e falando mesmo na “balda da política portuguesa”, Pestana Reis, num novo artigo uma semana depois, a 25 de Agosto, elogiou a acção dos deputados madeirenses, já que compreendia, como António Pestana, que sem eles seria difícil conseguir avanços significativos no estatuto autonómico.

Deste modo no dia 7 de Novembro, alertando para a necessidade de passar das intenções à acção, sugeria que se reunissem os advogados para elaborar um estatuto de Autonomia, esclarecendo, dois dias depois, que este estatuto teria que ser original e não copiado dos estatutos das colónias, pois que “a Madeira é terra de brancos, de civilização europeia, que dispensa missões civilizadoras ou tutores vindos de Lisboa”. Por outro lado, o regime autonómico, que vinha defendendo, não se limitava a uma maior atribuição de receitas à Junta Geral como pretendiam alguns regionalistas, pois visava-se a autonomia até aos limites, isto é, “uma autonomia dentro da pátria portuguesa “a conquista do governo completo da nossa casa” e por essa via, poder mudar de um regime parlamentar para um regime corporativo, que propunha. A especificidade do povo madeirense justificava esta reivindicação pelo facto de ter atingido a maioridade, pelo que “não precisamos que nos dêem a emancipação. Havemos de fazer com se quebre por nossas mãos a tutela abusivamente imposta e avaramente regateada”.

Ramon Rodrigues insistia na necessidade de substituição do regime parlamentar pelo corporativo, evitando assim o perigo de criar um “Terreiro do Paço da Madeira, quando nos queremos livrar do Terreiro do Paço de Lisboa”. (História da Madeira, coordenação de Alberto Vieira, setembro 2001).

Em 1923 era renovada a esperança na criação de partidos regionais, nomeadamente na hipótese de criar um Partido Regional ou Acção Regionalista.

 

(continua)

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