Conflitos das Autonomias da
Madeira (42)
A razão fundamental para desenvolver o combate a favor da autonomia teve
por base o artigo intitulado «Se a Madeira quisesse» da autoria de José Bruno
Carreira, publicado no jornal da ilha de São Miguel, Correio dos Açores, do dia
22 de junho de 1922. O texto lançou um forte apelo à união de açorianos e
madeirenses “na busca de soluções para o alargamento da autonomia das ilhas”. A
resposta a este desafio foi dada por Manuel Pestana Reis no artigo “A Madeira
quer”, publicado no Diário de Notícias, do Funchal, em Setembro desse mesmo
ano.
Antes, porém, Pestana Reis havia iniciado um processo de preparação da
opinião pública com uma série de artigos, publicados no Correio da Madeira.
Assim a 23 de Março, no artigo “Em louvor do povo e da terra” faz-se um panegírico
ao povo madeirense, defendendo-se a ideia de independência da Madeira, pois
aquilo que liga o povo madeirense ao continente é apenas um sentimentalismo
patriótico, já que possui uma identidade própria.
No dia 19 de Agosto desse ano, no artigo “Palavras que o vento leva”,
insiste na idiossincrasia do povo madeirense e clama pela necessidade de “uma
larga autonomia administrativa”, tornando-se para isso necessário “desviar a
Madeira das engrenagens da política portuguesa”, apagando “a fisionomia de
campanários eleiçoeiros, de estreitas sucursais de S. Bento e Terreiro do
Paço”, já que as reivindicações da Madeira “são sempre tidas e resolvidas a
título de favor, que nos vexa e prejudica”, concluindo com um apelo a todos os
madeirenses “de sangue e de coração”.
Embora revelando uma clara aversão aos partidos políticos e falando mesmo na
“balda da política portuguesa”, Pestana Reis, num novo artigo uma semana
depois, a 25 de Agosto, elogiou a acção dos deputados madeirenses, já que
compreendia, como António Pestana, que sem eles seria difícil conseguir avanços
significativos no estatuto autonómico.
Deste modo no dia 7 de Novembro, alertando para a necessidade de passar das
intenções à acção, sugeria que se reunissem os advogados para elaborar um
estatuto de Autonomia, esclarecendo, dois dias depois, que este estatuto teria
que ser original e não copiado dos estatutos das colónias, pois que “a Madeira
é terra de brancos, de civilização europeia, que dispensa missões civilizadoras
ou tutores vindos de Lisboa”. Por outro lado, o regime autonómico, que vinha
defendendo, não se limitava a uma maior atribuição de receitas à Junta Geral
como pretendiam alguns regionalistas, pois visava-se a autonomia até aos
limites, isto é, “uma autonomia dentro da pátria portuguesa “a conquista do
governo completo da nossa casa” e por essa via, poder mudar de um regime
parlamentar para um regime corporativo, que propunha. A especificidade do povo
madeirense justificava esta reivindicação pelo facto de ter atingido a
maioridade, pelo que “não precisamos que nos dêem a emancipação. Havemos de
fazer com se quebre por nossas mãos a tutela abusivamente imposta e avaramente
regateada”.
Ramon Rodrigues insistia na necessidade de substituição do regime
parlamentar pelo corporativo, evitando assim o perigo de criar um “Terreiro do
Paço da Madeira, quando nos queremos livrar do Terreiro do Paço de Lisboa”.
(História da Madeira, coordenação de Alberto Vieira, setembro 2001).
Em 1923 era renovada a esperança na criação de partidos regionais, nomeadamente
na hipótese de criar um Partido Regional ou Acção Regionalista.
(continua)
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