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sábado, 29 de maio de 2021

 

               Conflitos das Autonomias da Madeira (33)

O livro «História da Madeira», coordenado por Alberto Vieira, destaca que o “conceito de regionalismo nasceu em França em 1874, sendo de uso corrente desde 1892 e pretende significar um movimento aberto a diversas correntes políticas e culturais e que actua na defesa dos interesses locais”. Mais refere que o Partido Republicano Português “lutara contra o centralismo lisboeta do poder monárquico e as forças vivas da Madeira estavam cada vez mais conscientes de que a solução dos da ilha passavam por uma autonomia administrativa e económica e que o estatuto autonómico de 1901 estava ainda aquém de corresponder a estes anseios.

Proclamada a República, alguns “filhos órfãos lastimosos” da Monarquia começaram a agitar a bandeira do regionalismo, como forma de oposição ao regime republicano e de intervenção na vida política. A 11 de Outubro de 1910, no Diário de Notícias, o Visconde Gonçalves de Freitas (1836-1915), deputado e Par do Reino, pela Madeira, no tempo da Monarquia, foi a primeira voz a surgir a público: “Nem republicanos, nem monárquicos. Nem ultramontanos, nem liberais. Madeirenses só! Porque a época não é própria para as distinções partidárias, mas para um abraço fraternal entre todas as classes sociais. Há grandes interesses a defender e importantes assuntos a discutir”. A necessidade de reunir esforços “puramente e exclusivamente madeirenses” e insurgia-se contra a verba insignificante que o Governo central enviara para fazer face à epidemia da cólera que surgira no Funchal, porque “a Madeira manda anualmente para os cofres do Estado, depois de feitas todas as despesas distritais, centenas de contos de reis”. Concluiu com um apelo ao fervor do debate e reclamação autonomista: “levantar bem alto a voz de forma que Portugal nos atenda e a Europa nos Oiça”.

A resposta veio de um republicano que assina com as iniciais L.O. P. C., que contrapõe o progresso da Madeira em marcha, dizendo que a sua continuidade depende do contributo dos portugueses, madeirenses ou não. São feitas acusações de chauvinismo e má-fé quanto aos impostos, uma vez que a Junta Geral administra muitas das verbas arrecadadas na Madeira, e de descrença e oposição à governação republicana “que não mente como nos mentiram durante três quartos de século, os governos da monarquia, que sempre nos ludibriaram””.

Mais salienta que “Em entrevista ao jornal O Liberal, a 5 de Junho de 1913. o visconde da Ribeira Brava, que se empenhara, já na Monarquia, na defesa dos interesses da Madeira, e que aderira ao PRP em 1908, exprime bem a esperança republicana: “Por várias vezes durante o antigo regime, tentei fazer alguma coisa de bom pela Madeira; reconheci, porém, que seria impossível lutar pelo proveito e capitulei! Mas, logo que vi proclamada a República, entendi que era a hora de fazer justiça à nossa terra. Durante largos anos a Madeira foi despojada da quase totalidade dos seus rendimentos, enviando milhares de contos, e não recebendo o mais insignificante melhoramento (O Liberal, a 5 de Junho de 1913)”.

“Nos últimos anos tomou vulto a ideia autonómica dos açoreanos e dos madeirenses. Não está ainda suficientemente definida no espírito deles, embora as aspirações estejam completas no ardor e unanimidade. Isto concorre para que na metrópole haja suspeitas e oposições apenas fundadas no descontentamento (…) subentende-se talvez o receio de que os madeirenses queiram juntar-se à Inglaterra (…) A. Quirino de Jesus, Autonomia da Madeira e Açores. in A Pátria, 7 de Julho 1923”.

(continua)

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