Conflitos das Autonomias da
Madeira (33)
O livro «História da Madeira», coordenado por Alberto Vieira, destaca que o
“conceito de regionalismo nasceu em França em 1874, sendo de uso corrente desde
1892 e pretende significar um movimento aberto a diversas correntes políticas e
culturais e que actua na defesa dos interesses locais”. Mais refere que o
Partido Republicano Português “lutara contra o centralismo lisboeta do poder
monárquico e as forças vivas da Madeira estavam cada vez mais conscientes de
que a solução dos da ilha passavam por uma autonomia administrativa e económica
e que o estatuto autonómico de 1901 estava ainda aquém de corresponder a estes
anseios.
Proclamada a República, alguns “filhos órfãos lastimosos” da Monarquia
começaram a agitar a bandeira do regionalismo, como forma de oposição ao regime
republicano e de intervenção na vida política. A 11 de Outubro de 1910, no
Diário de Notícias, o Visconde Gonçalves de Freitas (1836-1915), deputado e Par
do Reino, pela Madeira, no tempo da Monarquia, foi a primeira voz a surgir a
público: “Nem republicanos, nem monárquicos. Nem ultramontanos, nem liberais.
Madeirenses só! Porque a época não é própria para as distinções partidárias,
mas para um abraço fraternal entre todas as classes sociais. Há grandes
interesses a defender e importantes assuntos a discutir”. A necessidade de
reunir esforços “puramente e exclusivamente madeirenses” e insurgia-se contra a
verba insignificante que o Governo central enviara para fazer face à epidemia
da cólera que surgira no Funchal, porque “a Madeira manda anualmente para os
cofres do Estado, depois de feitas todas as despesas distritais, centenas de
contos de reis”. Concluiu com um apelo ao fervor do debate e reclamação
autonomista: “levantar bem alto a voz de forma que Portugal nos atenda e a
Europa nos Oiça”.
A resposta veio de um republicano que assina com as iniciais L.O. P. C.,
que contrapõe o progresso da Madeira em marcha, dizendo que a sua continuidade
depende do contributo dos portugueses, madeirenses ou não. São feitas acusações
de chauvinismo e má-fé quanto aos impostos, uma vez que a Junta Geral
administra muitas das verbas arrecadadas na Madeira, e de descrença e oposição
à governação republicana “que não mente como nos mentiram durante três quartos
de século, os governos da monarquia, que sempre nos ludibriaram””.
Mais salienta que “Em entrevista ao jornal O Liberal, a 5 de Junho de 1913.
o visconde da Ribeira Brava, que se empenhara, já na Monarquia, na defesa dos
interesses da Madeira, e que aderira ao PRP em 1908, exprime bem a esperança
republicana: “Por várias vezes durante o antigo regime, tentei fazer alguma
coisa de bom pela Madeira; reconheci, porém, que seria impossível lutar pelo
proveito e capitulei! Mas, logo que vi proclamada a República, entendi que era
a hora de fazer justiça à nossa terra. Durante largos anos a Madeira foi
despojada da quase totalidade dos seus rendimentos, enviando milhares de
contos, e não recebendo o mais insignificante melhoramento (O Liberal, a 5 de
Junho de 1913)”.
“Nos últimos anos tomou vulto a ideia autonómica dos açoreanos e dos
madeirenses. Não está ainda suficientemente definida no espírito deles, embora
as aspirações estejam completas no ardor e unanimidade. Isto concorre para que
na metrópole haja suspeitas e oposições apenas fundadas no descontentamento (…)
subentende-se talvez o receio de que os madeirenses queiram juntar-se à
Inglaterra (…) A. Quirino de Jesus, Autonomia da Madeira e Açores. in A Pátria,
7 de Julho 1923”.
(continua)
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