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quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

Conflitos das Autonomias da Madeira (27)

A implantação da República teve aceitação da população rural madeirense de forma lenta e pouco entusiasta. “A forte influência dos caciques monárquicos (líderes dos partidos monárquicos), com apoio do clero, dificultaram a penetração da propaganda republicana. Em Santana a República só foi proclamada a 1 de Fevereiro de 1911 com a intervenção de um pelotão da Companhia de Caçadores 6. No Estreito de Câmara de Lobos tal só viria a acontecer no mês seguinte. Em Machico, desde as 23 horas do dia 11 de Dezembro de 1910 até o amanhecer do dia seguinte, a bandeira monárquica voltou a ser hasteada no forte de S. João Baptista pelos amotinados contra a instalação naquela Vila de um hospital de isolamento de doentes de cólera. A epidemia, que já provocara muitos mortos em 1856 e em 1905-6, reacendeu-se a 20 de Outubro de 1910 no Funchal, propagando-se a algumas povoações da Madeira, como Machico. O povo, desesperado e ignorante, incitado por fanáticos anti-republicanos, reagiu saqueando também a casa do Delegado de Saúde, na altura ausente em Lisboa, o Dr. António Balbino do Rego, acusado de andar disfarçado pela calada da noite a envenenar as águas por toda a ilha, causando assim a doença”. («História da Madeira», Coordenação de Alberto Vieira, pag.287, setembro de 2001).

A citada «História da Madeira» revela que em 1910 a cólera morbus motivou a morte a 556 madeirenses (210 no Funchal 161 em Câmara de Lobos, 71 na Ponta do Sol, 75 em Machico, 26 em Santa Cruz e 13 no Porto Santo. No ano de 1856 a totalidade de óbitos tinha sido de 4 700, sendo  2014 no Funchal, 532 em Câmara de Lobos, 281 na Ponta do Sol, 319 em Machico, 716 em São Vicente, 510 na Ribeira Brava, 328  na Calheta e 13 no Porto Santo.

Mais refere que “O regime republicano foi gerando paulatinamente entusiasmo e esperança junto da população, através das reformas realizadas nas áreas social e laboral. A legislação anti-clerical, decretada pelo Governo Provisório da República (Outubro de 1910 – Agosto de 1911), nomeadamente a extinção das Ordens Religiosas e o confisco a favor do Estado dos seus bens, radicalizou as posições pró e contra a República. Também na Madeira os edifícios dos conventos foram ocupados pelo poder civil. O Colégio dos Jesuítas passou a ser um aquartelamento militar e o Convento das Mercês foi convertido em Cadeia.

O encerramento da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias (…) pouco tempo antes reconhecida oficialmente pelas autoridades, foi muito criticado e notado. A sua fundadora, a cidadã britânica Mary Jane Wilson, tendo-se recusado a deixar o hábito religioso, como ordenava a nova legislação, foi presa e compelida a deixar a Madeira, rumo à sua terra natal, só regressando a 1 de Novembro de 1911 (…). A luta anti-clerical começou por aproveitar os edifícios religiosos, que nacionalizou, para instalação de serviços públicos. Foi o que se passou por exemplo em relação aos conventos das Mercês e de Santa Clara, o Seminário para Escola de Belas Artes (1913), o Paço Episcopal para o Liceu do Funchal (1913). A isto acresce a instabilidade política e as sucessivas quedas de Governo que dificultaram a concretização de projectos e a realização de obras várias vezes planeadas.

A grande iniciativa de vulto foram as obras do porto do Funchal, com adiamento. Uma portaria de 8-12-1911 criou uma comissão de estudo para o início das obras. A lei nº 89 de 13/8/1913 estabelece a Junta Autónoma das Obras do Porto do Funchal, que só será regulamentada através da portaria de 27 de Novembro de 1915”.

(continua)

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