Conflitos das
Autonomias da Madeira (27)
A implantação da República teve aceitação da população rural madeirense de
forma lenta e pouco entusiasta. “A forte influência dos caciques monárquicos
(líderes dos partidos monárquicos), com apoio do clero, dificultaram a
penetração da propaganda republicana. Em Santana a República só foi proclamada
a 1 de Fevereiro de 1911 com a intervenção de um pelotão da Companhia de
Caçadores 6. No Estreito de Câmara de Lobos tal só viria a acontecer no mês
seguinte. Em Machico, desde as 23 horas do dia 11 de Dezembro de 1910 até o
amanhecer do dia seguinte, a bandeira monárquica voltou a ser hasteada no forte
de S. João Baptista pelos amotinados contra a instalação naquela Vila de um
hospital de isolamento de doentes de cólera. A epidemia, que já provocara
muitos mortos em 1856 e em 1905-6, reacendeu-se a 20 de Outubro de 1910 no
Funchal, propagando-se a algumas povoações da Madeira, como Machico. O povo,
desesperado e ignorante, incitado por fanáticos anti-republicanos, reagiu
saqueando também a casa do Delegado de Saúde, na altura ausente em Lisboa, o
Dr. António Balbino do Rego, acusado de andar disfarçado pela calada da noite a
envenenar as águas por toda a ilha, causando assim a doença”. («História da Madeira», Coordenação de Alberto
Vieira, pag.287, setembro de 2001).
A citada «História da Madeira» revela que em 1910 a cólera morbus motivou a
morte a 556 madeirenses (210 no Funchal 161 em Câmara de Lobos, 71 na Ponta do
Sol, 75 em Machico, 26 em Santa Cruz e 13 no Porto Santo. No ano de 1856 a
totalidade de óbitos tinha sido de 4 700, sendo 2014 no Funchal, 532 em Câmara de Lobos, 281
na Ponta do Sol, 319 em Machico, 716 em São Vicente, 510 na Ribeira Brava,
328 na Calheta e 13 no Porto Santo.
Mais refere que “O regime republicano foi gerando paulatinamente entusiasmo
e esperança junto da população, através das reformas realizadas nas áreas
social e laboral. A legislação anti-clerical, decretada pelo Governo Provisório
da República (Outubro de 1910 – Agosto de 1911), nomeadamente a extinção das
Ordens Religiosas e o confisco a favor do Estado dos seus bens, radicalizou as
posições pró e contra a República. Também na Madeira os edifícios dos conventos
foram ocupados pelo poder civil. O Colégio dos Jesuítas passou a ser um
aquartelamento militar e o Convento das Mercês foi convertido em Cadeia.
O encerramento da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das
Vitórias (…) pouco tempo antes reconhecida oficialmente pelas autoridades, foi
muito criticado e notado. A sua fundadora, a cidadã britânica Mary Jane Wilson,
tendo-se recusado a deixar o hábito religioso, como ordenava a nova legislação,
foi presa e compelida a deixar a Madeira, rumo à sua terra natal, só
regressando a 1 de Novembro de 1911 (…). A luta anti-clerical começou por
aproveitar os edifícios religiosos, que nacionalizou, para instalação de
serviços públicos. Foi o que se passou por exemplo em relação aos conventos das
Mercês e de Santa Clara, o Seminário para Escola de Belas Artes (1913), o Paço
Episcopal para o Liceu do Funchal (1913). A isto acresce a instabilidade
política e as sucessivas quedas de Governo que dificultaram a concretização de
projectos e a realização de obras várias vezes planeadas.
A grande iniciativa de vulto foram as obras do porto do Funchal, com adiamento.
Uma portaria de 8-12-1911 criou uma comissão de estudo para o início das obras.
A lei nº 89 de 13/8/1913 estabelece a Junta Autónoma das Obras do Porto do
Funchal, que só será regulamentada através da portaria de 27 de Novembro de
1915”.
(continua)
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