Visão
minimalista do PS-Madeira
Quando nos dias
18 e 19 de janeiro tiver lugar o XVI Congresso do PS-Madeira, os cerca de 300
delegados estarão perante uma única moção de estratégia política regional de
cariz minimalista. A visão apresentada é a de que o PS-Madeira não tem
capacidade de, por si só, apresentar-se às eleições regionais de 2015 com uma
proposta de governo ganhadora. Por isso, o presidente eleito no dia 13 de
dezembro, escancara o partido a uma coligação com todos os partidos da
oposição, de modo que “a coligação deverá ser alicerçada num Programa de
Governo Comum com propostas que objectivamente garantam a recuperação económica
e a sustentabilidade das finanças públicas”.
Desconfio que a
proposta para uma coligação seja para levar a sério, uma vez que Víctor Freitas
já se apresentou como candidato a presidente do Governo, o que coloca, desde
já, a dúvida se no caso da “oposição toda junta em 2015” deve ou não apresentar
o líder do PS-M como cabeça de uma lista comum com via aberta para presidente
do Governo, ou se deverá ser uma figura que mereça do eleitorado o seu voto. Porque,
verdade seja dita, não é o Victor Freitas a melhor aposta, nem interna nem
externa. E não é por ter sido reeleito para presidente do PS-M (diferente de
liderança) – por falta de outros concorrentes - que, só por isso, tem de ser o
candidato à Quinta Vigia.
Permanecerá por
muito tempo em aberto a questão de saber que partidos estarão recetivos à
proposta coligação «mudança» para 2015. O PTP já se colocou de lado; não acredito
que o CDS e o PCP adiram a qualquer coligação, cujos contornos esbarram em
premissas definidas antes do tempo; resta saber a posição dos restantes partidos
que estiveram na «Mudança» do Funchal, os quais, provavelmente, terão em conta
a hipótese de beneficiarem da bengala do PS-M; e falta saber se concorrerá o
novo partido de esquerda em formação.
O mote da
proposta «Mudança» em coligação, se constitui um atestado de incapacidade do
PS-M de ser alternativa ao poder constituído, tem por fundamento os resultados
eleitorais das últimas eleições autárquicas. Mas até neste plano ocorre um
vício com visão minimalista do presidente do PS-M. Porque em Machico, Porto
Moniz e Porto Santo o PS concorreu sem coligação e obteve maioria absoluta; a
coligação em Câmara de Lobos foi um desastre; no Funchal a coligação obteve uma
vitória, mas sem maioria absoluta, obtendo menos votos (21.111) que a soma dos
votos obtidos individualmente pelos partidos em eleições anteriores (21.842); em Santa Cruz e São
Vicente não se sabe quanto vale, eleitoralmente, o PS-M, o mesmo acontecendo
nos dois concelhos onde houve coligação; os 537 votos na Calheta, 1.020 na
Ponta do Sol, 1.507 na Ribeira Brava e 392 em Santana não dão garantias de
qualquer vitória, a menos que haja intervenientes credíveis eleitoralmente no
plano regional.
Outra vertente que coloca o PS-M numa posição menos
confortável, tem a ver com a legitimidade quantitativa em que o próximo
congresso se realiza. Foi anunciado na comunicação social regional que havia
cerca de 3.500 militantes inscritos no âmbito do PS-M. Destes, apenas cerca de
1.200 tinham direito a voto. Mas apenas votaram 781. Tirando os votos brancos e
nulos, Victor Freitas foi eleito por apenas 765 votos. E com número equivalente
de votos foram eleitos os delegados ao congresso. Estamos perante uma reduzida
representatividade eleitoral do presidente eleito e dos delegados de 21,9 por
cento, se tivermos em conta o total anunciado de inscritos, e 63,8 por cento,
de atendermos aos militantes com direito a voto.
Independentemente
da percentagem que se tenha em conta, existe uma verdadeira falha no funcionamento
interno do PS-M, quanto à mobilização dos seus militantes. Ressalvadas as
honrosas exceções, as estruturas de base não funcionam: nem na discussão de
políticas ao nível de freguesia e de concelho, nem na mobilização para
pagamento de quotas. As decisões são tomadas sem discussão interna abrangente,
apenas pelos “órgãos representativos”, se é que analisam questões políticas. Os
estatutos estabelecem que, pelo menos uma vez por ano, deve haver uma
“assembleia geral” nas estruturas de base (Secções), mas, pelo menos naquela a
que pertenço, não tenho memória de tal iniciativa. O descalabro é tal que, até
na convocatória para o recente ato eleitoral, não foi o presidente da
assembleia geral a assinar, mas sim o coordenador da Secção.
É neste estado
de coisas, internas e externas, que decorrerá mais um congresso do PS-M…!